Na sexta-feira, dias depois de dizer que "a gente faz o diabo na eleição", a presidente Dilma interpretou a candidata na TV e anunciou um saco de bondades que ela mesma vetara seis meses antes.
O DNA da proposta de acabar com os impostos federais da cesta básica é curioso: foi gerada no PT, abortada por conveniência do governo e reencarnada, graças ao PSDB, no corpo de uma medida provisória. Aprovada no Congresso, foi vetada por Dilma e agora anunciada como se fosse novinha em folha.
Para chegar a tanto, Dilma e sua equipe de marketing devem ter concluído que o bônus do anúncio para milhões pela TV abafaria o ônus do grito da oposição e das crítica dos chatos de três ou quatro jornais.
A questão da oportunidade foi decisiva. Em setembro, época do veto, Dilma ainda dava de ombros para o risco de inflação e ainda não tinha sido tão ostensivamente empurrada para a campanha por Lula.
Agora, a coisa mudou. Na sexta-feira, saiu o índice de inflação de fevereiro, maior do que o mercado esperava, e era justamente o Dia da Mulher, que é mais da metade do eleitorado. Perfeito para o conteúdo e o tom do pronunciamento.
Dilma desonerou a cesta básica, incluiu novos produtos e conta com a redução do preço de carnes, café, manteiga, óleo, sabonete e pasta de dente. Também prometeu uma política de defesa do consumidor e um centro integrado de proteção à mulher em cada Estado. Uma beleza!
Encerrou incluindo um autoelogio típico de candidatos num recado aos agressores de mulheres: "Não esqueçam jamais que a maior autoridade desse país é uma mulher, uma mulher que não tem medo de enfrentar os injustos nem a injustiça, estejam onde estiverem". Só faltou o "votem em mim!".
O impacto popular é óbvio, mas isso tudo deixa dúvidas: por que fazer o diabo a tanto tempo da eleição? Afinal, o que -ou quem- Dilma, Lula e João Santana tanto temem?
Fonte: Folha de S. Paulo
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