Cristian Klein, Fábio Brandt e Cristiano Zaia – Valor Econômico
SÃO PAULO e BRASÍLIA - A seis meses das eleições e seis meses depois do anúncio da união nacional entre o PSB, do presidenciável Eduardo Campos (PSB), e o Rede Sustentabilidade, da ex-senadora Marina Silva, provável vice na chapa, os dois partidos ainda não sabem se a aliança se repetirá para a eleição a governador em cerca de metade das 27 unidades da Federação. De acordo com levantamento do Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor, as dificuldades se refletem na indefinição em 13 Estados.
Na sexta-feira, o clima de divergência esquentou quando o Rede criticou publicamente a possibilidade de apoio do PSB à candidatura do presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB), ao governo do Rio Grande do Norte.
Em nota, o grupo de Marina Silva afirmou que a aliança do PSB com o PMDB representa "a manutenção da velha política" e "que irá realizar todos os esforços políticos para que não se viabilize".
Ao Valor, o primeiro-secretário nacional do PSB, Carlos Siqueira, disse que essa ainda não é a decisão oficial da legenda. "O partido ainda não deu [o apoio ao PMDB]. Isso ainda será submetido à [comissão] executiva nacional", afirmou.
A polêmica sobre o Rio Grande do Norte é apenas mais uma entre a série de arestas que os dois partidos tentam aparar. Em 14 unidades da Federação a situação da aliança já foi resolvida, sendo que em duas está sacramentado que cada legenda irá para um lado.
No Paraná, o PSB vai aderir à campanha a reeleição do governador Beto Richa (PSDB), enquanto o Rede pedirá voto para a pré-candidata do PV, Rosane Ferreira. Em Alagoas, o PSB lançará o recém-filiado deputado federal Alexandre Toledo, um ex-tucano, ao governo estadual mas o grupo de Marina, por enquanto, decidiu que fará campanha apenas para Heloísa Helena (PSOL), que concorrerá ao Senado.
A maior parte dos desentendimentos e negociações tem, pelo menos, duas origens: a necessidade do Rede de expor seus candidatos em candidaturas majoritárias aos governos estaduais ou ao Senado e a recusa do grupo de Marina em se aliar a PSDB, PMDB ou outras legendas, consideradas de direita.
É o caso de São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, onde, antes da entrada do grupo de Marina, o PSB articulava participar da coligação à reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB). Depois de pressões, a tese da candidatura própria prevaleceu e o Rede conseguiu afastar os pessebistas dos tucanos. Mas a indefinição continua em relação a quem será o candidato.
O PSB defende o deputado federal Márcio França, presidente estadual da legenda. Mas o Rede apresentou os nomes do também deputado federal Walter Feldman e do vereador de São Paulo Ricardo Young. Os dois estão filiados, respectivamente, ao PSB e ao PPS, mas são ligados ao Rede Sustentabilidade. Como a legenda de Marina não obteve o registro a tempo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para participar das eleições deste ano, a agremiação encaminhou seus integrantes para se filiarem a outros partidos - o principal deles foi o PSB.
Em Minas Gerais, está a situação mais indefinida entre os partidários de Campos e Marina, de acordo com Pedro Ivo Batista, integrante da comissão executiva nacional e responsável pela montagem dos palanques estaduais do Rede. Ali, ainda não há decisão a respeito de coligação ou candidatura própria. O plano A do PSB era lançar o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, que, no entanto, desistiu de concorrer na sexta-feira, quando venceu o prazo de desincompatibilização. O outro plano é se aliar ao candidato dos tucanos, o ex-ministro Pimenta da Veiga, conforme confirma Siqueira ao Valor.
Ocorre que o Rede quer distância do PSDB e apresentou o nome do médico sanitarista e ambientalista Apolo Heringer, de 71 anos. Heringer foi um dos líderes da Polop, organização de esquerda que combateu a ditadura militar, e pela qual deu aulas de marxismo à então militante e hoje presidente Dilma Rousseff, por quem disse ter tido uma paixão platônica à época.
Já o casamento entre o Rede e o PSB esbarra, ainda, no reconhecimento de acordos feitos com terceiros. A candidatura de Heringer, por exemplo, iria contra um suposto pacto de não agressão firmado entre Campos e o presidenciável e senador Aécio Neves (PSDB-MG), pelo qual um não lançaria candidato no Estado do outro. Em Pernambuco, os tucanos já anunciaram decisão neste sentido.
"Não sei que acordo é esse", afirma Pedro Ivo Batista.
Carlos Siqueira também nega que o trato tenha existido, mas afirma que onde Rede e PSB não puderem andar juntos isso deve ser encarado de uma maneira natural. O dirigente pessebista minimiza as discordâncias. "Todo mundo tem esse tipo de problema. Num país de dimensão continental como o Brasil, não dá para exigir verticalização [das alianças estaduais]. A base aliada do governo federal e o PSDB também têm esses desafios", diz.
Na Bahia, a união foi das menos problemáticas. Os dois partidos dividiram a chapa majoritária, já que a senadora Lídice da Mata (PSB) concorrerá ao governo e a ex-magistrada Eliana Calmon - que está no PSB como uma "filiação democrática" da Rede - disputará o Senado.
O grupo de Marina, aliás, já conseguiu ou ainda tenta emplacar vários filiados como candidatos ao Senado. No Ceará, a ambientalista Geovana Cartaxo (PSB/Rede) fará dobradinha com a empresária Nicole Barbosa (PSB), que concorrerá ao governo estadual. Em Goiás, o procurador federal Aguimar Jesuíno (PSB/Rede) formará a chapa com o ex-prefeito de Senador Canedo, Vanderlan Cardoso (PSB).
Na Paraíba, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul, o Rede apresentou para o Senado, respectivamente, os nomes do advogado Hilário Junior (PSB/Rede), do professor Luís Claudio Ribeiro (PPS/Rede) e da advogada Tatiana Ujacow (PSB/Rede), também sugerida como candidata a vice-governadora.
Tudo isso depende de negociação com outros parceiros da coligação. Em Pernambuco, por exemplo, o secretário estadual de Meio Ambiente Sérgio Xavier (PV/Rede) abriu mão da primeira suplência ao Senado para facilitar o apoio do PV a Paulo Câmara (PSB), a aposta de Campos à sua sucessão.
No Paraná, onde os partidos estarão separados, a professora Sigrid Andersen (PV/Rede) é a candidata ao Senado em coligação com o PV.
A recusa do Rede em apoiar tucanos e pemedebistas atinge ainda Estados como o Pará - onde apresentou o nome do ambientalista Marcelo Aiub (PSB/Rede) para o governo - e o Piauí, onde a agremiação não reconhece a composição da chapa pela qual o PMDB terá o candidato a governador, o PSDB o vice, e o PSB ao Senado. "Esse arranjo é incerto, ainda não nos foi oficializado", rebate Batista.
A exceção ao PMDB é feita no Rio Grande do Sul, onde o grupo de Marina Silva aceita apoiar o ex-prefeito de Caxias do Sul José Ivo Sartori, ligado ao senador pemedebista do Estado Pedro Simon, um entusiasta da formação do Rede.
Pedro Ivo Batista, contudo, nega a versão de que Marina teria se "encantado", em Santa Catarina, com Paulo Bornhausen, identificado com partidos à direita - foi do DEM, passou pelo PSD e agora preside o PSB no Estado.
"Não procede isso. Não sei de onde inventaram", diz.
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