• PT sente falta da "bomba atômica", o "Pelé no banco"
- Valor Econômico
A presidente Dilma Rousseff chegou com 41 minutos de atrasos ao Centro Educacional Unificado (CEU) Jambeiro, no bairro de Guaianazes, na zona leste de São Paulo, no último domingo. Atrasos são comuns a candidatos em campanha. Faz parte do jogo. O que impressionou na visita de duas horas da presidente da República ao CEU de Jambeiro foi a comitiva que a acompanhava, de baixa densidade eleitoral, para se dizer o mínimo.
Ao lado da presidente Dilma ficou o prefeito da cidade, Fernando Haddad, aparentemente com a popularidade em recuperação, mas cuja administração na Prefeitura de São Paulo é apontada, no próprio PT, como uma das causas para um dos piores resultados eleitorais do partido no Estado. Junto com ele estavam também o candidato derrotado ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha (18,22% dos votos), e o senador Eduardo Suplicy, que perdeu a vaga para José Serra (PSDB), após 24 anos, na proporção de quase dois voto para cada um.
Chamou a atenção da repórter Fabiana Batista, do Valor, que acompanhava o ato de campanha, a ausência de petistas pesos-pesados, em evento numa cidade onde a presidente anda carente de votos. O ministro Aloizio Mercadante, que tirou férias da Casa Civil para reforçar a campanha, por exemplo. Ou a ministra da Cultura, Marta Suplicy, candidata preterida ao governo de São Paulo, que carrega no portfólio a criação dos CEUs, projeto mantido por seus sucessores, inclusive do PSDB e do DEM, como Serra e Gilberto Kassab, hoje no PSD, respectivamente.
A ausência mais gritante da primeira semana de campanha de Dilma, no segundo turno, no entanto, é a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também não estava em Guaianazes, no CEU Jambeiro. Contados os votos do primeiro turno, declarado o resultado, Lula apareceu na última quinta-feira para passar um pito no PT de São Paulo. Depois submergiu e nem sequer foi visto no horário eleitoral gratuito, nos quatro programas de televisão iniciais da candidata.
Lula vai aparecer nos programas de Dilma, mas para uma eleição que se presume disputada ponto a ponto, causou alguma perplexidade, entre petistas, o fato de o ex-presidente não ter sido aproveitado na televisão, desde o primeiro programa. Lula sempre foi classificado no PT como a "bomba atômica" a que se pode recorrer a qualquer momento para resolver as situações mais difíceis. É o Pelé no banco, como gosta de dizer o ministro Gilberto Carvalho. A esta altura, já não há dúvida, a responsabilidade de uma eventual derrota da presidente Dilma, nas eleições do dia 26, será lançada única e exclusivamente em sua conta. Para ser mais preciso: na conta da presidente e do jornalista João Santana, o publicitário do PT e da campanha.
O discurso está pronto e acabado: Dilma, uma criatura de Lula, teria sido vítima do próprio temperamento; teimosa, não aceitou os conselhos recorrentes do criador para se aproximar de empresários ou ter uma relação política mais próxima com o Congresso e com os movimentos sociais. Agora estaria colhendo as tempestades que semeou ao longo do governo. Lula, nas conversas com os amigos mais próximos, depois do primeiro turno, deu o tom da cobrança a ser feita, ao dizer que o lugar do PT não é nos gabinetes, mas nas ruas, ou que pretende fiscalizar mais de perto as ações da pupila, em caso de vitória.
A campanha da presidente da República atravessa uma zona de turbulência. Nenhum marqueteiro, por sua própria vontade, exporia seu candidato a um evento de campanha junto com um volume morto de derrotados por larga margem de votos, casos de Padilha e Suplicy. Em São Paulo, o PT que pode ajudar se escondeu. Um publicitário com trânsito tanto com Dilma como com Lula arrisca que o ex-presidente ainda pode ser muito importante nos eventos do Nordeste, mas nem tanto em São Paulo. Na realidade, segundo o marqueteiro, o PT envelheceu e Lula já não disporia do mesmo poder de fogo que tinha quando elegeu a presidente Dilma, sem que ela nunca tivesse disputado antes uma eleição.
No primeiro turno, a presidente não passou do patamar dos 25% dos votos úteis em São Paulo. Numa eleição indefinida, precisa chegar pelo menos a 30%, para não depender tanto dos votos do Nordeste, reduto que permanece fiel ao PT. Dilma perdeu em bairros da periferia de São Paulo historicamente ligados ao PT e em municípios simbólicos para o partido, como São Bernardo do Campo. Lula saiu de fininho, segundo um dirigente petista, mas pode ser valioso ainda no maior colégio eleitoral do país, que concentra cerca de 22% do total de votos.
Em vez de Lula, o espaço cada vez maior da propaganda da presidente, na televisão, é para a corrupção e a Petrobras. A operação Lava Jato é lixo tóxico para Dilma. Não é de hoje que as encrencas em que a estatal se meteu dão problemas para a presidente. Em março, Dilma declarou que aprovou a compra da refinaria de Pasadena (EUA) sem ler todos os documentos que deveriam ter chegado às suas mãos; em abril caíram sua aprovação e seu índice de intenção de votos nas pesquisas de opinião.
No ataque, a campanha de Dilma também tem levado algumas bolas nas costas. Seu programa de TV acusou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de quebrar o país "três vezes", abafar "todos os escândalos de corrupção" e provocar "desemprego altíssimo". Abriu a guarda para a campanha de Aécio divulgar uma carta de Dilma na qual a presidente elogia FHC, "ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação" e o "presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica".
A carta foi escrita em 2011, por ocasião dos 80 anos de Fernando Henrique Cardoso. À época, o ex-presidente Lula ficou contrariado com o desembaraço distensionista da presidente. Cabe registrar que a iniciativa de Dilma foi estimulada por um dos nomes mais próximos de Lula, o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci. Ele e Lula devem rezar o mesmo credo, se Dilma conseguir a reeleição.
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