- O Globo
Num ataque de “sincericídio” que desmontou o álibi de Lula, o ministro Gilberto Carvalho afirmou, diante de blogueiros chapa-branca e ativistas petistas, que “no Itaquerão não tinha só elite branca, não. Não fui pro jogo, mas estive ao lado [do Itaquerão], numa escola (…), fui e voltei de metrô. Não tinha só elite no metrô. Tinha muito moleque gritando palavrão dentro do metrô que não tinha nada a ver com elite branca”.
Constatar a realidade é uma ação política muito mais eficaz do que criar uma realidade, é o que parece estar dizendo aos petistas o ministro mais ligado a Lula. A verdade é que o PT está tateando em busca de uma narrativa que compense as evidentes falhas do governo de Dilma Rousseff e até agora não encontrou.
Tentou primeiro a tática do medo naquela propaganda que ameaçava com o fim do mundo se Dilma perder a eleição e não colou. Inventou agora a campanha do ódio, jogando uma pretensa “elite intolerante” contra os “pobres e feios”, revelando nesse ato falho o preconceito do próprio Lula.
Como o país não vive uma “luta de classes”, essa tática também falhou, e o resultado da nova pesquisa Ibope divulgada ontem pela CNI demonstra que a vitimização da presidente não teve consequência na avaliação do governo, que sofreu queda em rigorosamente todos os quesitos analisados.
Já são, por exemplo, 52% dos brasileiros a dizerem simplesmente que não confiam na presidente da República.
Não seria a tentativa de transformar Dilma de gerentona exigente e rigorosa em uma senhora frágil e digna de pena que faria mudar o sentimento dos brasileiros.
A propósito da tentativa de vitimização por causa dos xingamentos a Dilma no Itaquerão, vale a pena abrir um parêntese para contar a história da reação do então presidente Itamar Franco ao xingamento de Lula, que o chamou de “filho da p...”
em 1993, numa conversa com jornalistas.
Sagaz, o político mineiro soltou uma nota oficial em que chama Lula de “elitista e arrogante” e, em suma, dizia o seguinte:
“Mesmo que minha mãe fosse uma p..., eu teria por ela o mesmo amor filial”. Em matéria de vitimização, muito mais elegante do que o que os petistas tentaram fazer.
Como constatou Gilberto Carvalho, diante de militantes petistas atônitos, “a coisa desceu. Isso foi gotejando, de água mole em pedra dura, esse cacete diário de que inventamos a corrupção, de que nós aparelhamos o Estado brasileiro, de que somos um bando de aventureiros que veio aqui para se locupletar, essa história pegou. Na elite, na classe média, e vai gotejando, vai descendo”.
É claro que o objetivo final de Gilberto Carvalho era, como sempre, atacar o que chamam de mídia: “Nós não fizemos o debate na mídia pra valer; nós passamos esse tempo todo com uma pancadaria diária que deu resultado. E que resulta no palavrão para a Dilma”.
De maneira enviesada, Carvalho está fazendo o mesmo que Alberto Cantalice, vice-presidente do PT e coordenador de redes sociais fez na página oficial do partido, nomeando alguns jornalistas como responsáveis em última análise pelos xingamentos a Dilma, numa atitude irresponsável que merece repúdio.
“Fazer o debate da mídia para valer” significa tentar por todos os meios aprovar o tal “controle social da mídia”, o que dá margem a que se vincule a criação por decreto presidencial dos tais “conselhos populares” a uma tentativa repetida de aparelhamento pelo PT, desde que chegou ao poder central, das diversas instâncias institucionais do país.
A pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem mostra que o governo Dilma está no momento vivendo uma crise que o coloca em pelo menos dois parâmetros que definem a impossibilidade de ser reeleito: a popularidade do governo da presidente Dilma Rousseff caiu de 36% em março para 31% em junho, computados aqueles que consideram o governo ótimo ou bom.
Há pesquisas que indicam que com menos de 35% de ótimo e bom é praticamente impossível se reeleger. A presidente Dilma Rousseff tem também o maior índice de rejeição entre os candidatos, com 43% afirmando que não votariam na petista “de jeito nenhum”.
É unânime entre os especialistas que com uma rejeição igual ou maior que 40%, um candidato perde a condição de se eleger. l
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