Marina Dias, Flávia Foreque e Valdo Cruz - Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Integrantes do governo Dilma Rousseff avaliaram que o cumprimento nesta terça-feira (15) de mandados de busca e apreensão na residência oficial do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e dos ministros Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) e Henrique Eduardo Alves (Turismo), ambos do PMDB, aumenta ainda mais instabilidade política no país.
Diante do envolvimento de nomes de ministros na nova fase da Operação Lava Jato, o governo diz que "espera que todos os fatos" relacionados a eles "sejam esclarecidos o mais breve possível e que a verdade se estabeleça".
A orientação dentro do governo é de cautela. Por isto, nota do Palácio do Planalto afirma ainda que "todos os investigados" têm o direito de "apresentar suas defesas, dentro do processo do contraditório". Finaliza dizendo que o governo espera que "este processo fortaleça as instituições brasileiras".
Nos bastidores, porém, a nova fase da Operação Lava Jato, que atingiu em cheio o PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer e maior sigla da base aliada ao governo, preocupa.
Ministros admitem que a Lava Jato se tornou fato "imponderável" para o governo e que a presidente Dilma e sua equipe têm dificuldade para se blindar dos efeitos das investigações.
A avaliação é a de que, além de lidar com a crise política e econômica, o Planalto vai enfrentar agora o acirramento da disputa com o PMDB e será ainda mais fustigado por Cunha, que, apesar de ser alvo de busca e apreensão, permanece como presidente da Câmara dos Deputados.
Relação tensa
Planalto e PMDB seguem em uma relação tensa desde o início do segundo mandato de Dilma e, para integrantes do governo, o quadro político se agrava ainda mais com a legenda no alvo da Polícia Federal.
Além de Cunha, Pansera e Henrique Alves, Fábio Cleto, aliado do presidente da Câmara que ocupava uma das vice-presidências da Caixa Econômica Federal até a semana passada, também foi alvo de busca, em São Paulo. Ele é um dos principais operadores de Cunha e foi demitido por Dilma em uma espécie de "exemplo" para aliados que ainda têm cargo no governo mas mantém posição dúbia quanto ao impeachment da presidente.
Houve buscas também na diretoria-geral da Câmara, órgão responsável por fechar contratos e ordenar despesas.
A ação da PF ainda atinge o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE), apontado como interlocutor do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), nos desvios da Petrobras, do senador e ex-ministro Edison Lobão (PMDB-MA), que é investigado no Supremo Tribunal Federal pela Lava Jato, e Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro.
A operação da PF também deve impactar no ritmo de trabalho da Câmara.
Assessores do Planalto ponderam ainda que a ação também pode ter na mira aliados do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), com quem o governo mantém diálogo diante da tramitação do processo de impeachment no Legislativo. A ação da PF, na manhã de hoje, atinge o deputado federal Aníbal Gomes(PMDB-CE), apontado como interlocutor de Calheiros.
Logo cedo, segundo a Folha apurou, Dilma foi informada da operação pelo ministro José Eduardo Cardozo (Justiça). A petista viajou para uma agenda em Congonhas (MG) e retorna à capital no início da tarde.
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