Por Bruno Peres, Lucas Marchesini e Raymundo Costa - Valor Econômico
BRASÍLIA - Às vésperas da decisão sobre o rito a ser seguido pela Câmara na análise do processo de impeachment, pesquisa do Ibope feita sob encomenda da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela um novo recorde negativo na aprovação da presidente Dilma Rousseff: 70% da população avalia seu governo como ruim ou péssimo. A aprovação da presidente se mantem estável há três meses, com viés de baixa: apenas 9% avaliam que o restante do governo Dilma será bom ou ótimo.
Assim, 20% dos que responderam a pesquisa consideraram o governo da presidente Dilma regular em dezembro, frente a 21% em setembro. A desaprovação pessoal da presidente foi de 82%, enquanto a aprovação foi de 14%. A confiança na presidente Dilma também oscilou negativamente um ponto (leia quadro ao lado).
A estabilização em torno dos 9% indica que a presidente pode realmente ter chegado ao fundo do poço, mas todos os demais números da pesquisa indicam que a popularidade da presidente é prisioneira da crise política e econômica: enquanto perdurar a crise, mais difícil será para Dilma sair da situação em que se encontra hoje.
As políticas e ações de combate ao desemprego registram aumento de 83% para 87% no percentual de reprovação. As rejeições à política tributária (91% ante 89%) e ao combate à inflação (85% ante 83%) oscilaram para cima em dezembro, mas dentro da margem de erro, de dois pontos percentuais. Essas áreas são aprovadas, respectivamente, por 12%, 7% e 12%, com oscilações também dentro da margem de erro. Outras medições feitas pela CNI mostram que é baixa a confiança do consumidor assim como é baixa a confiança do empresariado, ao que se soma, agora, a detecção dos primeiros sinais da recessão sobre a opinião pública. Combinados, dificultam a recuperação de Dilma.
A sensação de desgoverno é refletida em um inédito salto de nove pontos (de 65% para 74%) na desaprovação às políticas de meio ambiente, provavelmente causada pelo rompimento de uma barragem da Samarco em Mariana (MG). O meio ambiente era uma das áreas mais bem avaliadas, com 21% de aprovação em dezembro.
A combinação das crises política e econômica sobre o humor da população pode ser desenhada pelas notícias mais lembradas pela população: Impeachment de Dilma (50%), Operação Lava-Jato/Corrupção na Petrobras (13%), corrupção no governo (7%), manifestações contra a corrupção (5%) e a aceitação do pedido de impeachment pelo presidente da Câmara (4%), deputado Eduardo Cunha.
O processo de cassação de Cunha, no qual aposta o governo para equilibrar o noticiário em relação ao impeachment de Dilma, é apenas a décima notícia mais lembrada. No agregado, o impeachment da presidente Dilma é a novela política de maior audiência, noticia citada por 51% dos entrevistados.
Apesar de ter aumentado suas aparições públicas e discursos, num esforço de propaganda oficial, a presidente entra no processo de impeachment, se o Supremo não impedir a Câmara de continuar a análise do pedido, com um novo recorde negativo de 70% de reprovação popular, segundo a CNI.
A falta de popularidade não é motivo para impedimento, mas certamente alguma recuperação nos índices seriam bem-vindos no Palácio do Planalto durante o processo de discussão sobre a abertura do processo na Câmara. O problema é que as previsões indicam um aprofundamento da recessão e a ampliação do desemprego no primeiro trimestre de 2016, período crítico da discussão do impeachment.
A abertura do processo de impeachment, entretanto, não teve impacto direto na popularidade da presidente Dilma, segundo avaliou o gerente de pesquisa CNI, Renato da Fonseca. "São temas tratados já há algum tempo, a crise política e econômica. Já estamos convivendo com ela desde o início do ano", disse.
A pesquisa foi realizada entre 4 e 7 de dezembro e tem abrangência nacional. Foram realizadas 2.002 entrevistas em 143 municípios. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.
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