- O Globo
A nova fase da Lava-Jato foi batizada de Catilinárias pela PF. Mas poderia ser chamada de Operação PMDB. O partido acordou ontem perplexo — e assim passou o resto do dia. A turma peemedebista esperava, sim, uma ação pesada sobre Eduardo Cunha. Uma pancada em Cunha estava precificada.
Mas uma ação com essa abrangência não passava pela cabeça de ninguém do partido.
Seus dirigentes desenvolveram, ao longo do dia, diversas teorias conspiratórias para tentar explicar as razões ocultas da PF. Todas apontavam para uma trama do governo Dilma. Por exemplo: “O que teria feito o governo a sacrificar dois ministros e botá-los na roda?”, perguntava um dirigente peemedebista, certo, como todos os seus pares, de que havia dedo do Palácio do Planalto no desmonte de ontem.
“Por que atingir Renan Calheiros, que tem sido até aqui leal ao governo?”, questionava outra liderança do PMDB. Renan, ressalte-se, não foi atingido diretamente, mas foi cercado: três pessoas próximas a ele foram alvo da Catilinárias. A chance de convencer um peemedebista de que o governo não se mexeu para botar o partido na fogueira é igual a zero.
Até Michel Temer, sabidamente avesso a teorias conspiratórias, avaliou, em conversas com alguns interlocutores, que a ação foi um cerco ao partido. Aliás, Temer é uma espécie de sujeito oculto de toda a Operação PMDB.
No momento em que bota a cabeça para fora como o provável sucessor de uma Dilma pós-impeachment, seu partido entra da pior maneira possível no centro do palco.
E vêm as perguntas óbvias: só faltou Temer nas buscas da PF? Ou só sobrou ele? E sobrou por quanto tempo? São dúvidas que nublam os planos mais imediatos do vice-presidente e embaralham mais um pouco o xadrez do impeachment.
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