• Dois ministros peemedebistas foram alvos de mandados de busca
- O Globo
-BRASÍLIA- No Palácio do Planalto, desde cedo, a avaliação ontem era que a Operação Catilinárias deverá aumentar a instabilidade política e, portanto, terá impacto negativo, no momento em que o governo tenta diminuir o nível de tensão política. Além de Cunha, também foram alvos de mandados de busca e apreensão dois ministros da presidente Dilma Rousseff : Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) e Henrique Eduardo Alves (Turismo), justamente dois dos ministros peemedebistas ligados à bancada da Câmara.
Uma pessoa próxima a Dilma explicou que a operação era ruim para o governo, porque “atinge no coração” o partido que é o principal aliado e com o qual a presidente trava uma disputa.
— Essa operação atinge o PMDB no coração, aumentando a instabilidade do governo. Eleva o grau de tensão — disse a fonte.
Em nota, a Secretaria de Imprensa da Presidência da República disse que “o governo espera que todos os fatos investigados na nova fase da Operação Lava-Jato, envolvendo ministros de Estado e outras autoridades sejam esclarecidos o mais breve possível, e que a verdade se estabeleça”. O desdobramento da operação foi analisado em almoço entre o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, e os ministros da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini e da Justiça, Eduardo Cardozo.
Apesar da avaliação de que a nova fase da Lava-Jato “não é boa para ninguém”, assessores da presidente mostravam-se aliviados com o fato de as investigações tirarem o PT do foco da corrupção e jogarem luzes sobre o PMDB, que é a alternativa de poder a Dilma, em caso de impeachment.
— Por que tirar a Dilma e entregar para o grupo do Cunha? — indagou um integrante do Planalto, referindo-se ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
O governo tenta evitar, no entanto, que esse episódio contamine a já conflituosa relação com o PMDB. O mantra no Palácio do Planalto ontem era que Dilma continua trabalhando para manter os ministros peemedebistas no governo e continua querendo o retorno do deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ) à liderança do partido.
Sobre a acusação de Cunha, de que o governo e o Ministério Público estariam atuando juntos contra ele de forma revanchista, auxiliares de Dilma afirmaram que Cunha, ao contrário do ex-líder do governo no Senado Delcídio Amaral (PT-MS), não foi preso. E, em segundo lugar, se a ofensiva fosse contra Cunha, os ministros Pansera e Alves não teriam sido alvo da mesma operação.
— Foi o mesmo Teori que decidiu sobre Delcídio e sobre Cunha — disse um auxiliar.
Mobilização da Câmara
Com a operação, participantes da reunião de líderes da Câmara com o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, entenderam que a situação é grave e decidiram procurar a oposição para tentar dar ares de normalidade ao Legislativo. Os deputados Jovair Arantes (PTB-GO) e Affonso Mota (PDT-RS) ficaram responsáveis por procurar oposicionistas para mobilizar a Câmara a votar as matérias ainda pendentes, antes de o ano legislativo se encerrar.
— Com essa operação de hoje na casa do Cunha nos aproximamos de uma crise institucional. É a Polícia Federal em uma das casas do Legislativo. Temos que buscar um denominador comum para buscar um mínimo de normalidade institucional — disse um participante da reunião.
No encontro no Palácio do Planalto, Berzoni pediu que os aliados se empenhem para que haja quorum nas sessões do Congresso.
— Temos que votar algumas coisas. Não é possível a gente entrar em recesso e largar essa confusão para trás. A oposição também tem interesse nisso. Vamos fazer uma força-tarefa para votar — disse Jovair Arantes.
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