sexta-feira, 4 de março de 2016

Lula mandou calar Cerveró, afirma Delcídio

• Senador diz que ex- presidente interveio em favor do amigo Bumlai; em nota, instituto nega as acusações

Cleide Carvalho, Dimitrius Dantas, Mariana Sanches, Stella Borges, Silvia Amorim e Thiago Herdy – O Globo

- SÃO PAULO- Em acordo para delação premiada, o senador Delcídio Amaral ( PT- SP) disse que o ex-presidente Lula sabia do esquema de corrupção na Petrobras e mandou dar dinheiro à família de Nestor Cerveró, ex- diretor da estatal, para comprar o silêncio dele nas investigações da Operação Lava- Jato. De acordo com a reportagem da revista “IstoÉ”, Delcídio disse que o ex-presidente pediu “expressamente” a ele que ajudasse o pecuarista José Carlos Bumlai, seu amigo, porque ele seria citado nas delações premiadas do lobista Fernando Baiano e de Cerveró. Segundo Delcídio, Bumlai tinha “total intimidade” com Lula e exercia o papel de “consigliere” (conselheiro) da família.

De acordo com a revista, Delcídio era o responsável por intermediar os pagamentos à família de Cerveró. O senador disse que acertou os detalhes com o filho do pecuarista, Maurício Bumlai. Ao todo, teriam sido pagos R$ 250 mil a Cerveró, em remessas de R$ 50 mil, entregues pelo advogado Edson Ribeiro e Diogo Ferreira, assessor de Delcídio.

A reportagem diz ainda que Delcídio afirmou que, em 2006, Lula e o ex- ministro Antonio Palocci articularam um pagamento de R$ 220 milhões a Marcos Valério, para evitar que o publicitário se manifestasse sobre o mensalão. Na ocasião, o dinheiro teria sido prometido a Valério por Paulo Okamotto, hoje presidente do Instituto Lula. Em relação ao sítio de Atibaia, o senador afirmou que Bumlai teria contratado um arquiteto e um engenheiro para fazer as obras, mas a operação foi abortada pelo então presidente da OAS, Léo Pinheiro, que se dispôs a colocar a empreiteira para realizar o serviço.

Estratégia é desqualificar senador petista
Entre aliados e assessores próximos a Lula, a avaliação ontem era que Delcídio abriu mão do mandato e da relação com o PT para tentar se salvar. A estratégia agora é desqualificar o senador petista, dizer que ele conta mentiras e bravatas para salvar a própria pele, como já teria feito com Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró.

Ontem, o Instituto Lula negou as acusações de Delcídio: “O ex- presidente Lula jamais participou, direta ou indiretamente, de qualquer ilegalidade, seja nos fatos investigados pela Operação Lava- Jato, ou em qualquer outro, antes, durante ou depois de seu governo.”

Lula passou o dia reunido em seu instituto com petistas. Além do presidente do partido, Rui Falcão, o estrago provocado pela delação ainda foi alvo de discussões com o ex-ministro Luiz Dulci e o ex- secretário da Presidência, Gilberto Carvalho. Nos bastidores, a análise é a de que a situação do governo Dilma, que já era extremamente delicada pela delação dos 11 executivos da Andrade Gutierrez, entrará em fase terminal. As análises sobre a situação de Lula ultrapassaram os muros do Instituto. — Lula está ilhado — disse uma fonte. Preocupação e cautela foram palavras usadas por petistas em São Paulo para resumir a situação

— Isso traz preocupação, mas temos que ver se essa delação vai se confirmar. Vamos ter cautela — reagiu um líder do partido.

Rui Falcão, em rápido contato com a imprensa na sede do Diretório Nacional, seguiu a estratégia de atacar a credibilidade de Delcídio. Ele lembrou que o senador foi afastado pelo partido e que uma comissão de três pessoas analisará a possibilidade de expulsão.

— O ex-presidente Lula não participou de nenhuma tratativa, e a presidenta Dilma não interferiu nas investigações — afirmou Falcão.

Segundo amigos, o ex-presidente jamais esperava que Delcídio incluísse seu nome e o de Dilma numa delação. Para ele, Delcídio era um aliado de confiança, tanto que, depois de sair do governo, deu ao senador a tarefa de levar ao governo as orientações que esperava ver seguidas pela presidente. 

Até ser preso na Lava- Jato, Delcídio vinha semanalmente a São Paulo para encontros com Lula. Era ele quem deixava o ex-presidente a par das articulações políticas e se encarregava de fazer valer junto a Dilma as opiniões do antecessor. Lula se sentiu traído por Delcídio e, pela primeira vez, teria manifestado preocupação com o que está por vir. Nas fileiras internas, há quem não esconda o fato de que Delcídio sabe de detalhes que poucos conhecem.

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