- O Estado de S. Paulo
As informações repassadas pelo senador Delcídio do Amaral ao Ministério Público, bem como as operações de busca e apreensão de documentos nas casas de Luiz Inácio da Silva e do filho Fábio com autorização para condução coercitiva do ex-presidente para prestar o depoimento que vinha tentando evitar, não deveriam surpreender ninguém. Isto se o Brasil estivesse acostumado a conviver com o preceito de que a lei é igual para todos.
O caráter explosivo das ações decorre justamente da falta do hábito de ver cada instituição e/ou corporação cumprir o seu dever sem olhar a quem. Na realidade, se algo de estranho havia no ar era a demora de as investigações chegarem aonde chegaram. Esquisito era o ex-presidente transitar com tanta liberdade e falta de cerimônia pelas veredas do lodaçal que o cerca desde que o braço direito de seus braços direito e esquerdo foi pego extorquindo um bicheiro.
Surgiam ali, ainda no primeiro ano do primeiro mandato de Lula da Silva - nas figuras de Waldomiro Diniz e de seu chefe imediato na Casa Civil, José Dirceu -, os personagens iniciais de uma trama (um drama?) que caminha para um desfecho. Os investigadores chegaram ao topo da cadeia que alimentou as fontes de financiamento do PT e, ao que vem sendo revelado, de enriquecimento de detentores do poder.
Até então a situação anômala era a que livrava de apuração mais acurada o principal arquiteto e beneficiário do projeto petista. Um homem que há mais de três décadas, desde a fundação, comanda e controla todas as ações de um partido sobre o qual há muito mais que suspeitas de que tenha se apoderado de maneira ilícita da máquina pública.
A novidade, razão do assombro, é a persistência, a contundência, a competência e a independência com que a Polícia Federal, a Justiça e o Ministério Público buscam desvendar todo o esquema de corrupção que contamina o Estado, desqualifica o exercício da política, desalenta a população e prende o Brasil nas malhas do atraso.
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