sexta-feira, 4 de março de 2016

Uma nova nutriz - César Felício

• Delcídio realimenta a discussão sobre o impeachment

- Valor Econômico

O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) reposicionou a discussão sobre o impeachment presidencial. A presidente Dilma Rousseff ainda está longe de responder por crime de responsabilidade do ponto de vista jurídico. Há quatro ou cinco personagens citados na reportagem da revista "IstoÉ" a postos para dizer que o senador petista estaria mentindo e uma denúncia judicial não se sustenta sem indícios concretos que acompanhem um depoimento.

Do ponto de vista político, contudo, a história é outra. Vale lembrar que o então presidente Fernando Collor foi cassado pelo Legislativo, mas absolvido pelo STF. Uma acusação com esta gravidade evolui ou não para algo maior se estiver dentro de um caldo de cultura que faça a crise crescer. A presidente mantinha até ontem a situação sob controle por três fatores: inexistência de fatos que a implicassem diretamente no escândalo da Petrobras, falta de clamor popular e manipulação do tema pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

As revelações de Delcídio surgem dez dias antes de um protesto agendado pelo impeachment, que agora, ganha uma nova nutriz. Aparece no mesmo dia em que o STF transforma Cunha em réu e debilita seu poder de chantagem. A ameaça sobre Dilma pode inclusive acelerar o processo de afastamento do deputado da presidência da Câmara.

Um impeachment de Dilma pode se alimentar a depender do teor da delação que vier a ser homologada. O primeiro movimento de Delcídio foi um monumento à dubiedade, na nota que assinou conjuntamente com o advogado Antonio Figueiredo Basto, um especialista em delações premiadas. Delcídio não confirmou os termos da reportagem, mas não a desmentiu. Procura deixar claro que não foi a fonte. Se exime de esclarecer se fez ou não delação.

O destino de Dilma ficará pendente ainda da reação do PMDB, que estava diminuindo seu engajamento no projeto de instalar Michel Temer no poder. O fato novo poderá levar a uma revisão da estratégia, a depender da extensão do dano que a delação causar na cúpula do partido.

Precisará ainda de um PSDB coeso e ileso, sem lideranças incriminadas nas 400 páginas da delação obtida pela revista.

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Apostar na fragmentação tucana na eleição de 2018 não deve render um bom prêmio para especuladores. É um evento bastante provável, um palpite que fica dentro do convencional, do previsível.

As prévias para a escolha do candidato do partido à Prefeitura de São Paulo, que se desenrolam este mês, a rigor, não existem. O que existe é a afirmação de Geraldo Alckmin frente a Aécio Neves, José Serra e Fernando Henrique Cardoso. A candidatura do empresário João Doria Jr, provável vencedor da disputa contra o vereador Andrea Matarazzo, é apenas o primeiro passo de um presidenciável que está disposto a ousar na arriscada aposta de disputar e prevalecer. Sentar-se à mesa para obter consensos, no momento, não lhe interessa.

O governador está em minoria dentro do partido. Em termos nacionais, isto ficou claro na escolha do líder tucano na Câmara dos Deputados. Alckmin e Serra apoiaram Jutahy Júnior, batido por Antonio Imbassahy, ambos baianos. A maioria simples obtida por Doria nas prévias não muda isso.

A desconfiança vem de longe. Diga-se em favor de Alckmin que as outras lideranças tucanas também não procuraram compor com o governador ao definirem a estratégia para a eleição de 2016. Matarazzo está em campanha permanente desde que foi eleito vereador.

As prévias do último fim de semana foram tão irreais que produziram um paradoxo: suas supostas consequências as antecederam. Antes da batalha tucana no domingo, os aliados de Matarazzo e do deputado Ricardo Tripoli já relatavam para quem quisesse ouvir que o governador estaria usando a máquina para beneficiar seu favorito. Entre os aliados de Doria, afirmava-se claramente que as prévias deste ano eram um "esquenta" para a eleição presidencial.

O pastelão de domingo tornou tudo explícito: de um lado, acusações de compra de voto, do outro, o governador classificando as denúncias como ridículas, e, em troca, sendo definido por expoentes da sigla como "déspota", entre outros adjetivos.

Fora do meio tucano a alternativa óbvia de Alckmin é o PSB do vice-governador Márcio França, e esta talvez seja outra fonte que alimenta a resistência que o governador enfrenta em seu próprio Estado. Discutir a eleição presidencial em 2018 é discutir a eleição para governador e um pacto entre Alckmin e França é evidente. Diferente de outros ex-vice-governadores, como Claudio Lembo e Guilherme Afif Domingos, França tem apetite maior por poder e sabe que 2018 será a sua única chance de vencer uma eleição para o governo estadual.

A pretensão presidencial de Alckmin, deste modo, fecha as portas do Palácio dos Bandeirantes para um eventual retorno de José Serra ou para o coroamento da carreira política de Aloysio Nunes Ferreira Filho.

Concorrer fora do PSDB seria uma aposta na fragmentação do quadro em 2018, em um cenário parecido com o de 1989, quando Fernando Collor terminou em primeiro lugar no primeiro turno com apenas 28% dos votos. Aquela foi uma eleição solteira, mas a crise que se abateu sobre o governo federal e sobre Lula diminuiria a vinculação da eleição presidencial com a de governadores e com a do Legislativo.

A experiência brasileira com prévias mostra um prognóstico em geral ruim para quem as realiza. Em 2012, Serra foi o candidato a prefeito pelo PSDB em São Paulo após prevalecer na eleição interna, e perdeu a eleição. Dez anos antes, Tarso Genro derrotou o então governador gaúcho Olívio Dutra na escolha do PT e perdeu a eleição para o governo do Rio Grande do Sul.

Em 1996, também no PT paulistano, Luiza Erundina bateu Aloizio Mercadante nas prévias e perdeu a disputa nas urnas para Celso Pitta. Dois anos antes, Orestes Quércia havia batido Roberto Requião na prévia do PMDB. Trata-se de um padrão: em todos os casos citados a disputa interna aprofundou as divisões já existentes. As prévias tornaram impossível a composição e todos perderam.

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