O senador petista Delcídio Amaral resolveu falar. Ex-líder do governo no Senado, o parlamentar foi solto em 19 de fevereiro, depois de passar três meses na cadeia sob a acusação de tentar obstruir as investigações da Lava Jato, mas antes propôs um acordo de delação premiada à Procuradoria-Geral da República.
Delcídio tem muito o que dizer, pois conhece as entranhas lulopetistas. O senador não é um qualquer que possa ser desmentido. Habitué da cozinha do Planalto e com livre trânsito no Alvorada, a residência oficial da presidente Dilma Rousseff, Delcídio foi até agora aliado e interlocutor firme desse governo que ele denuncia sem dó. Além disso, como ex-diretor da Petrobrás, está certamente a par da arquitetura corrupta que ajudou a arruinar a estatal e a abastecer os cofres do PT e de seus aliados.
Por isso, caso resolva mesmo contar tudo o que sabe, é provável que afinal fique mais claro qual foi o papel exercido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por sua sucessora, Dilma Rousseff, em todo esse mar de lama. Pois é isso, afinal, o que interessa ao País: saber se Dilma tinha pleno conhecimento do colossal propinoduto instalado sob seu nariz, se foi de alguma forma beneficiada pelos recursos que por ele trafegaram e se usou seu poder para interferir nas investigações que visam a desbaratar a quadrilha que o operava.
O que veio à luz ontem estarrece a Nação. É a revelação de um escândalo de proporções inauditas mesmo para os padrões lulopetistas e que justificaria com sobras um processo de impeachment. A revista IstoÉ publicou trechos do documento preliminar de colaboração de Delcídio, que teria cerca de 400 páginas. Nesse depoimento inicial, em que o senador expôs os temas sobre os quais pretende falar depois que o acordo de delação for homologado pelo Supremo Tribunal Federal, Delcídio, segundo a revista, já detalhou, por exemplo, a atuação de Dilma para atrapalhar a Lava Jato no âmbito dos tribunais superiores.
Somente esses trechos já seriam suficientes para comprometer o mandato de Dilma, mas há muito mais. Delcídio disse que a presidente tinha plena consciência de que a compra da Refinaria de Pasadena seria desastrosa para a Petrobrás e declarou também que a CPI dos Bingos foi abafada quando se percebeu que revelaria o caixa 2 da campanha da petista em 2010.
Sobre Lula, há também diversas acusações explosivas. Delcídio disse, por exemplo, que estava a mando do ex-presidente quando tentou comprar o silêncio de Nestor Cerveró, porque o ex-diretor da Petrobrás poderia implicar José Carlos Bumlai, o amigão do chefão petista. O senador afirmou ainda que o ex-ministro Antonio Palocci, também a mando de Lula, comprou em 2006 o silêncio de Marcos Valério, pivô do mensalão. E por aí vai.
É com estupefação que o País toma conhecimento dessas denúncias assombrosas. Começa a ficar mais claro que tipo de participação teve Lula nas seguidas falcatruas que abalaram seu governo. A verdadeira face do chefe do PT se revela por inteiro.
O mais importante, porém, é o que emerge em relação à presidente Dilma Rousseff. Desde que os escândalos começaram a se suceder em seu governo, a petista sempre alegou desconhecer qualquer dos esquemas denunciados e garantiu que os corruptos seriam punidos com rigor. Reiteradas vezes, a exemplo do que fazia seu padrinho Lula, disse que sua honestidade jamais poderia ser questionada, mesmo diante da avalanche de acusações.
A partir do momento em que começou a ficar claro que nenhuma de suas garantias era suficiente para afastar as suspeitas de que seu governo estava tomado pela corrupção e que sua candidatura dela se beneficiou, alimentando o movimento pelo seu impeachment, Dilma tratou de se esconder sob o argumento malandro de que é vítima de “golpe” – como se o impeachment não tivesse previsão constitucional e como se ela não tivesse a obrigação de prestar contas pelos delitos que envolvem seu governo e seu partido. Mais do que nunca a Nação tem o direito de exigir dela uma explicação clara e convincente. O problema é que as revelações de Delcídio, pelo pouco que se conhece delas, já deixam claro que a presidente não conseguirá produzir esse tipo de esclarecimento. Sua permanência no cargo já é moralmente insustentável.
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