Apenas 13 anos separam a ascensão ao poder e a queda do Partido dos Trabalhadores. A presidente Dilma Rousseff encerra o atual ciclo petista atingida por um processo de impeachment que, visto do passado, pareceria inacreditável. Ao acumular uma série desastrosa de erros políticos e econômicos, e provocar a maior recessão da história recente do país, o governo do partido que prometeu uma revolução ética na política foi apeado por participar ativamente de um dos maiores escândalos de corrupção da República.
O PT tornou-se diferente do que foi e, ainda que se mantenha um partido popular, perdeu o predomínio das ruas. Os últimos melancólicos dias da gestão da presidente Dilma Rousseff mostraram a perda de apelo da legenda. As manifestações finais contra o "golpe" foram inexpressivas. O ex-presidente Lula passou a maior parte dos últimos meses às voltas com explicações à Justiça e foi impedido de assumir a Casa Civil. O líder do governo no Senado, o petista Delcídio do Amaral, foi cassado por unanimidade. A manobra para anular o impeachment por meio do presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão, deu errado e foi constrangedora.
Incensada como gerente eficiente, a presidente Dilma Rousseff, desmentiu por todos os meios essa fama. Sem jamais ter sido eleita antes, mostrou uma espantosa inapetência política na Presidência, pontuada por rompantes autoritários, manias centralizadoras inamovíveis e baixa disposição ao diálogo. Isso não a impediria de concluir seu segundo mandato se, a uma gestão política capenga, houvesse o contraponto de uma economia em crescimento com razoável estabilidade. Ao esposar a nova matriz econômica, a ex-brizolista Dilma, com seu modelo estatista da década de 70, deixou as contas públicas em ruínas e a economia em sua mais duradoura recessão desde os anos 1930.
A derrocada econômica foi a causa principal da deterioração de sua base política, à qual se somaram o amadorismo político, a baixa qualidade da cúpula palaciana e o estilo agressivo de tratar partidos aliados - uma base gigante, construída por Lula quando presidente, para dar-lhe sustentação. Dilma passou o primeiro ano de seu governo nomeando e demitindo ministros, fazendo "faxina" diante dos escândalos que vinham à luz, a herança lulista de alianças sem princípios com o que de pior existe na política brasileira.
A política austera, seguida até o início do segundo governo Lula, cedeu lugar ao impulso às despesas públicas e à expansão do crédito, em doses tão poderosas que destruiu em pouco tempo o equilíbrio fiscal mantido por mais de uma década. A inflação primeiro se entrincheirou, depois mudou de nível e, diante da carência de recursos para tantos estímulos à economia, surgiram as "pedaladas fiscais", que dizimaram a credibilidade do governo e abriram um flanco vulnerável pelo qual passou o pedido de impedimento.
A impopularidade de Dilma atingiu seu auge após a dura campanha eleitoral de 2014, onde ganhou apertado para tomar em seguida medidas pelas quais havia duramente criticado seus opositores. A presidente sofreu o desgaste da guinada, mas continuou sem a convicção íntima de que havia algo errado em sua receita econômica - e continua assim até hoje. Joaquim Levy foi para o ministério da Fazenda, houve alguma chance de inverter a rota do abismo, mas Dilma e seus auxiliares boicotaram o trabalho de Levy e em uma série de manobras erradas provocaram a perda do grau de investimento do país pelas três empresas de classificação de risco.
Mal na economia, foi pior ainda na política, nas vezes em que resolveu agir. Tentou afastar a ala de Lula no início de seu segundo mandato e, ao mesmo tempo, livrar-se da dependência do PMDB, buscando atrair partidos invertebrados como o de Gilberto Kassab. Colheu o arquirrival Eduardo Cunha como presidente da Câmara e, depois, a debandada da base governista.
Dilma fez um governo medíocre e terminou isolada, sem contar sequer com apoio do próprio partido. Tornou-se frágil a ponto de ser afastada por um Congresso com dezenas de suspeitos de corrupção. Foi uma das mais impopulares presidentes que o país teve. Os enormes estragos que provocou na economia colocaram em risco a herança social deixada pelos governos petistas e exigirão anos de conserto.
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