quinta-feira, 12 de maio de 2016

Queda inevitável - Míriam Leitão

- O Globo

O estranho seria se nada acontecesse com o governo da presidente Dilma. Na economia, a recessão bate um recorde histórico, a inflação subiu, o desemprego está devastando ganhos passados e ameaçando o futuro das famílias. A maior estatal do Brasil está quebrada por erro de gestão e roubo. As fraudes fiscais desorganizaram as contas públicas, e o maior escândalo de corrupção atinge em cheio o governo.

No presidencialismo, o mandato tem mais proteção e o chefe do governo é mais estável, mas não é inamovível. O sistema político tende a retirar aquele que traz para o país uma soma excessiva de infelicidades. As empresas que fizeram os maiores projetos do governo estão enfrentando a Justiça, grandes empresários ligados às obras oficiais estão presos, o marqueteiro da presidente também está na prisão. Há fortes indícios de dinheiro desviado na campanha da presidente e dos políticos que a apoiavam. Manter tudo inalterado seria uma impossibilidade política.

A primeira das fraudes fiscais ocorreu no final do governo Lula, quando a equipe de Guido Mantega transformou dívida em receita com a capitalização da Petrobras. Foi uma triangulação mágica que envolveu Tesouro, BNDES e a Petrobras, e melhorou de forma artificial o resultado primário do ano. Daí para diante, brincar com os números passou a ser a regra da equipe econômica.

A lista de indicadores ruins no governo Dilma é enorme. O PIB saiu de uma alta de 7,5% para uma queda de 4%. A inflação superou 10% e hoje está em 9,2%. O endividamento bruto deu um salto de 51% para 67% do PIB; o déficit nominal saltou de 2% para 10% do PIB; e o resultado primário que era positivo em 2% foi para o vermelho em 2%.

A cadeia de óleo e gás está desestruturada não só pela corrupção na Petrobras desvendada pela Operação Lava-Jato, mas também porque o governo suspendeu as rodadas de petróleo quando o mercado estava crescendo e mudou o marco regulatório para aumentar a estatização. Diziam que era para fortalecer a Petrobras, e enquanto isso, nas sombras, ela estava sendo minada.

Na área de energia, o autoritarismo de Dilma quebrou as empresas, afundou a Eletrobras e provocou o tarifaço. A indústria automobilística, contemplada com mimos e regalos que custaram caro aos cofres públicos, teve anos de crescimento até que derrapou. Se em 2010 o ano terminou com alta de 18% nas vendas, este ano o que se vê é uma retração de 25%.

Dilma foi apresentada ao país, por Lula, seu tutor, como sendo boa gerente. Seu marketing fabricou a imagem de “mãe do PAC”. Os investimentos nunca decolaram e hoje o setor público está sem capacidade de investir. No setor privado, as empresas também não investem, por falta de capital ou de confiança.

A intervenção feita na política externa enfraqueceu o Itamaraty e seguiu uma linha ideológica que aproximou o Brasil de países que se afundaram em crises, como a Venezuela, e nos afastou dos principais mercados, como o dos Estados Unidos. Nos últimos meses, a presidente Dilma cometeu novos erros ao tentar defender seu governo. As manifestações abusivas no Palácio do Planalto provaram que o PT não sabe a diferença entre o público e o partidário. E esse defeito está na raiz de outros crimes.

No processo de impeachment, Dilma cai pelas fraudes que cometeu no Orçamento e na relação incestuosa com os bancos públicos, que é proibida expressamente por lei. Ela de fato cometeu esses erros. Não foram poucos, não foram banais. A defesa da presidente foi uma confissão de culpa. Ao menosprezar insistentemente o crime de ficar devendo bilhões a bancos públicos, provou que o governo jamais entendeu o espírito e a história da Lei de Responsabilidade Fiscal. Achou que podia desrespeitá-la. Foi com esse tipo de limite ao governante que se garantiu a estabilidade econômica no Brasil.

Para o cidadão comum, sua queda tem um pouco de tudo. Mesmo quem não entende o que é uma pedalada, ou por que motivo um governo não pode pegar empréstimo com os seus bancos, viu a inflação subir, tem medo do desemprego, sente o desconforto econômico de um país que encolhe. Essa soma de dores econômicas dissiparam o apoio que ela teve na reeleição. Até porque milhões de eleitores estão convencidos hoje que foram enganados. E foram.

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