• Michel Temer afirma ao ‘Estado’ que vai adotar um discurso conciliador no pronunciamento que pretende fazer hoje no Palácio do Planalto
Erich Decat e Victor Martins - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Na iminência de assumir interinamente o comando da Presidência da República a partir desta quinta-feira, 11, o vice-presidente Michel Temer definiu na quarta-feira, 11, com auxiliares o pronunciamento que deseja fazer à Nação, caso seja confirmado pelo Senado o afastamento de Dilma Rousseff do cargo por até 180 dias. O peemedebista vai pregar a “pacificação e a unidade do País”, além da retomada do crescimento econômico.
A declaração será dada em pronunciamento à imprensa previsto para esta quinta, no Palácio do Planalto. A expectativa é de que o vice seja notificado por volta das 11h do afastamento da titular do cargo. Em meio à correria dos preparativos para assumir o comando do País e das negociações com integrantes da futura base aliada, Temer falou ao Estado sobre o seu primeiro discurso como presidente. “Vai ser a pacificação e unidade do País, além do crescimento da economia. Vamos tomar medidas para isso”, disse.
Questionado se também anunciará nesta quinta as propostas que o novo governo pretende tomar na área econômica, Temer respondeu: “Vamos usar essa frase genérica, as medidas virão depois”. Segundo ele, por outro lado, a nova equipe ministerial deverá ser apresentada durante o pronunciamento. “O Ministério anuncio amanhã (hoje)”, afirmou Temer.
O peemedebista deixou o gabinete da Vice-presidência por volta da 1h10 desta madrugada, após se reunir com políticos cotados para integrar a nova equipe. Temer minimizou as dificuldades para a montagem do Ministério: “Não está difícil”. Naquele momento, os senadores ainda discursavam no plenário. “Vamos aguardar serenamente o resultado do Senado. Ainda temos 4 ou 5 horas pela frente”, comentou.
Redução. A ideia do vice é cortar dez dos atuais 32 ministérios. Ao longo da quarta-feira, alguns dos auxiliares mais próximos de Temer também foram incumbidos de fazerem um raio X na estrutura de cargos comissionados e organizacional do Palácio do Planalto. A intenção é definir o que deve ou não permanecer na nova gestão.
Cotado para a Casa Civil, o ex-ministro Eliseu Padilha disse que o grupo próximo de Temer passaria a noite “concluindo atos que dizem respeito à posse dos ministros”. Segundo ele, já haverá uma primeira reunião ministerial com a nova equipe de governo.
Outro futuro ministro do núcleo duro de Temer, o ex-deputado Geddel Vieira Lima afirmou que a expectativa é de que o peemedebista já seja presidente às 11h e fale à imprensa às 15h.
Jaburu. Enquanto os assessores faziam o levantamento dos cargos, Temer passou a maior parte do dia no Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência. No fim da tarde a mulher do vice, Marcela Temer, e o filho do casal, que também se chama Michel, chegaram ao local. Em meio ao entre e sai no Palácio, os arredores receberam reforço da segurança em razão da possibilidade de ocorrer um ato promovido por movimentos sociais e pelo PT após a possibilidade de aprovação da admissibilidade do impeachment no Senado.
Durante o dia, o vice recebeu comitivas de lideranças partidárias e parlamentares que ainda disputam espaços no primeiro escalão do futuro governo. Entre os impasses surgidos na reta final para a definição da equipe ministerial está a tentativa de contemplar a bancada do PMDB de Minas Gerais, que ficaria com a Defesa, mas foi descartada após forte reação crítica dos militares.
O vice-presidente também recebeu lideranças do PPS e do PSB, que ressaltaram que as legendas pretendem ajudar na governabilidade da próxima gestão.
“Precisamos de uma pauta para o Congresso, para que o Brasil volte a crescer, tenha emprego e diminua a inflação”, afirmou o deputado Danilo Forte (PSB-CE), após deixar o Jaburu.
Segundo o parlamentar, que já foi filiado ao PMDB, existem várias medidas em tramitação na Câmara que podem ser benéficas para recuperar a economia brasileira e ajudar no ajuste das contas públicas. Forte citou como prioridades a Desvinculação das Receitas da União (DRU), a revisão da meta fiscal e uma proposta de incentivo aos municípios.
O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), disse não esperar mais nenhuma surpresa no curso do processo do impeachment. “Espero que, para o bem de todos nós, o Congresso, como fez o impeachment, dificilmente não dará sustentação a esse governo. A sociedade vai exigir e o Congresso vai cumprir”, afirmou.
Também está no radar de líderes das siglas que devem compor a nova base aliada a tentativa de tirar da presidência da Câmara o deputado Waldir Maranhão (PP-MA), que tentou manobrar para anular o processo de impeachment, mas revogou a própria decisão. / Colaborou Carla Araújo
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