- IstoÉ
Ninguém questiona o fato de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser um craque na arte de se comunicar. E, sempre que se vê acuado, ele recorre a esse talento. No entanto, o que se viu na quinta-feira 15, quando Lula chamou a imprensa e um punhado de amigos para se defender das contundentes acusações feitas pelo Ministério Público, foi a atuação de um craque em final de carreira, jogando para uma torcida cada vez menor. Seus dribles são tão repetitivos e previsíveis que já não iludem nenhum zagueiro. Assim como a corrupção manchou para sempre a história do retirante que virou metalúrgico e depois presidente, a persistência no discurso de vítima das elites, nos ataques aos que possuem diplomas de cursos superiores e na tão falsa quanto surrada tese do nós contra eles, faz ruir o mito. O líder que sobre um palanque arrematava multidões e aglutinava em torno de si a esperança de um País melhor e mais ético, hoje é uma caricatura de si mesmo. Na semana passada, ao discursar para uma plateia privada e dócil, Lula era o retrato de Macunaíma, o personagem criado por Mário de Andrade para simbolizar um herói sem caráter, sempre disposto a levar vantagem e a contar histórias que valorizassem seus feitos.
Lula discursou durante uma hora e oito minutos. Nada disse sobre o propinoduto que saqueou o Brasil e do qual é acusado de comandar e repetiu a tese de que é vítima de perseguição porque em seu governo teria promovido a inclusão social. Lorota! Tentou criar o clima para uma estúpida e fantasiosa cruzada contra o juiz Sérgio Moro e os procuradores da força tarefa da Lava Jato. Gente menor, segundo ele, porque, em vez de disputarem votos, “se formam em uma faculdade, fazem um concurso público e estão com emprego garantido o resto da vida”. A seguir, o ex-presidente conseguiu aprimorar ainda mais o espírito de Macunaíma. Se comparou a Jesus Cristo e a Tiradentes. E, sem nenhum constrangimento, afirmou: “A profissão mais honesta é a do político. Sabe por quê? Porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir para a rua encarar o povo e pedir voto”. Ou seja, não importa se o político tem ou não caráter, se o político tem ou não compromisso com o dinheiro público, se o político é ou não corrupto. Se o desvio de recursos públicos vai ou não tirar os remédios dos postos de saúde. O importante, segundo o ex-presidente, é que o político tenha votos. Pior do que ouvir isso é constatar que há, ainda, quem seja capaz de aplaudir fala tão patética.
Mas, mostrando que realmente lhe resta qualquer pudor, o ex-presidente tratou os profissionais da Lava Jato como analfabetos políticos” e acabou justificando o Mensalão e o Petrolão. “Vocês sabem que muita gente que tem diploma universitário, que fez concurso, é analfabeto político”, afirmou. “O cara não entende do mundo da política. Não tem noção do que é um partido ser eleito com 50 deputados e tem que montar maioria”. Ou seja, tão lícito quanto costurar alianças políticas em torno de um programa que busque convergências é a compra do apoio parlamentar, baseado em distribuição de propinas para diferentes legendas. Desta vez, o craque em final de carreira fez gol contra.
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