Os resultados do 1º turno das eleições municipais – com derrotas acachapantes do lulopetismo e a emergência do PSDB como principal vitorioso – ampliam o espaço político e social para as reformas propostas pela equipe econômica e cobradas (a partir de agora com mais ênfase) pelos partidos da antiga oposição. Esvaziando as agressivas retórica e palavra de ordem do “golpe” e do “Fora Temer”. E favorecendo uma afirmação no novo governo da aliança entre a banda reformista do PMDB (da “Ponte para o Futuro”) e esses partidos, em torno das reformas, e não do preparo de um projeto eleitoral do maior partido do governo (apoiado pelas legendas do chamado Centrão), para 2018. Tendência (reformista) que, obviamente, enfrentará resistências na federação peemedebista; passará por um teste importante na renovação das mesas da Câmara e do Senado, já no início de 2017; e terá confirmação dependente, também – ademais da eficiência das respostas às crises econômica e fiscal – da preservação, ou não, de unidade pelas lideranças do PSDB. Bem como que, como tudo o mais no cenário político-partidário nacional, dependerá de novos desdobramentos da operação Lava-Jato, e paralelas, voltadas agora sobretudo para as lideranças do PMDB no Senado.
Tendência, cabe enfatizar, que prioriza as reformas da Previdência e das relações capital/trabalho, como fatores essenciais ao enfrentamento, para valer, das causas do agudo e ainda crescente descalabro das contas públicas das três esferas governamentais, e para a recriação das condições básicas de crescimento e de queda do desemprego por meio do reequilíbrio dessas contas e de um salto da produtividade e da competitividade das empresas brasileiras. O que reclama desencadeamento, decidido e rápido, de uma nova agenda de política econômica. Que deixe inteiramente para trás a do populismo assistencialista e intervencionista dos governos do PT. Mas, igualmente, rejeite a teia dos interesses corporativos – do sindicalismo e do “capitalismo de compadrio” (que tão bem serviu-se do lulismo e serviu a ele). Interesses estes, uns e outros, bastante fortes nos partidos do chamado Centrão. O primeiro teste do reformismo será o da tramitação da PEC do teto de gastos. Iniciada já na Câmara e na perspectiva (reforçada pelos resultados das eleições de domingo) de aprovação no plenário desta Casa antes do final de outubro para que possa ser confirmada em novembro pelo Senado.
E a forte erosão do petismo e de Lula
À enorme erosão eleitoral do PT no 1º turno vai seguir-se, certamente, a que ele sofrerá no 2º na única disputa de capital de que participará – o Recife. Não tendo sequer apresentado candidato em Salvador, onde a candidata apoiada, do PCdoB, teve tão só 14,56% dos votos, contra 73,99% de ACM Neto, do DEM. Resultados emblemáticos dessa erosão também no Nordeste, tido anos atrás como bastião do lulopetismo. De significado e efeitos políticos semelhantes aos produzidos pelos pleitos de Belo Horizonte e de Porto Alegre – no primeiro, com a candidatura do presidente do PT em Minas, Reginaldo Lopes, ficando em 4º lugar na disputa, com um percentual de 7,27%; na capital gaúcha com o ex-prefeito petista Raul Pont deslocado para o 3º lugar, pela ascensão do tucano Nelson Marchezan Junior. Ingredientes esses de um cenário nacional em que o partido passará a ter prefeitos governando pouco mais de 4 milhões de eleitores em vez dos 27 milhões no pleito de 2012. E no qual os desastres de maior impacto, bem como de maiores consequências para Lula, são os das eleições em São Paulo. Com destaque para a exclusão do prefeito Fernando Haddad, com menos de 17% dos votos, de um 2º turno frustrado pelos mais de 53% de João Dória do PSDB; e para o desmanche do “cinturão vermelho” da Região Metropolitana – com exclusão semelhante dos candidatos do PT das disputas finais em São Bernardo, Guarulhos e Osasco.
É no contexto de tal erosão – soma dos efeitos da desastrada política econômica dos governos Dilma e do protagonismo dos petistas, em especial do ex-presidente Lula, nos megaescândalos de corrupção (dos atribuídos “injustamente” à chefia de José Dirceu aos da pilhagem da Petrobras, outras estatais, bancos públicos, fundos de pensão) – é nesse contexto que a direção do PT terá de enfrentar agora uma intensa crise interna. E, simultaneamente, a deflagração de projetos externos de contestação da hegemonia petista na esquerda, como o do PSOL, de par com o de troca de nova candidatura de Lula (pelo seu alto grau de rejeição e por inviabilidade legal em face de condenação nos processos da Lava-Jato) pela do “aliado” Ciro Gomes. O embate interno começará contrapondo o empenho de Lula, para manter o que restar do PT sob controle de seu grupo, à retomada por Tasso Genro da proposta de “refundação” do partido numa frente de esquerda. E abrirá espaço para propostas ainda mais radicais de alas menores, como a que está defendendo a expulsão de todos os envolvidos nas investigações de atos de corrupção. Crise interna e pressões externas que serão intensificadas por novos episódios da Lava-Jato, da Acrônimo, da Hidra de Lerna, etc.
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