Por Maíra Magro e Murillo Camarotto | Valor Econômico
BRASÍLIA - O empresário Marcelo Odebrecht negou que o presidente Michel Temer tenha lhe solicitado expressamente qualquer auxílio financeiro para a campanha eleitoral de 2014, ao prestar depoimento ontem ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no processo que pode resultar na cassação da chapa Dilma-Temer.
Odebrecht confirmou, porém, sua participação em jantar no Palácio do Jaburu, que havia sido mencionado pelo ex-diretor de relações institucionais de sua empresa, Cláudio Melo Filho, em delação premiada à Procuradoria-Geral da República. Na delação, o executivo narrou que Temer pediu R$ 10 milhões a Odebrecht. O próprio Temer confirmou o pedido, mas de doação legal.
Ao TSE, Marcelo Odebrecht nega que Temer tenha pedido doação eleitoral
O empresário Marcelo Odebrecht negou que o presidente Michel Temer tenha lhe solicitado expressamente qualquer auxílio financeiro para a campanha eleitoral de 2014, ao prestar depoimento ontem ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no processo que pode resultar na cassação da chapa Dilma-Temer. Segundo o empresário, a solicitação de auxílio financeiro já havia sido feita anteriormente pelo atual ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e portanto sua visita a Temer no Palácio do Jaburu em 2014 teria sido apenas institucional.
No depoimento sigiloso, que durou quatro horas, Odebrecht confirmou, porém, sua participação em jantar com Temer no Palácio do Jaburu. O encontro já havia sido mencionado pelo ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho em delação premiada fechada com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Na delação, Melo Filho narrou que Temer pediu R$ 10 milhões à Odebrecht durante esse jantar.
À época do vazamento do depoimento do ex-diretor de Relações Institucionais, o próprio Temer chegou a confirmar um pedido de doação oficial a Marcelo Odebrecht - versão agora narrada de forma diferente no depoimento do empresário. A contradição, segundo pessoas próximas ao presidente, pode ser explicada pela estratégia de comunicação adotada por Temer, que ao não se recordar de detalhes do jantar no Jaburu teria optado por admitir o pedido de doação oficial à Odebrecht.
Na versão relatada ontem pelo empresário, contudo, tratou-se apenas de um jantar de "handshake" (aperto de mãos, no termo em inglês), sem qualquer pedido expresso de doação eleitoral por parte de Temer, seja por meio oficial ou caixa dois.
As contradições nos depoimentos deverão ser exploradas a fundo pela defesa de Temer na ação que corre no TSE, na tentativa de livrar o presidente do pedido de cassação da chapa vencedora das eleições de 2014. O processo foi movido pelo PSDB enquanto Dilma Rousseff ainda era presidente.
Segundo o Valor apurou, Marcelo Odebrecht também citou Dilma em seu depoimento. De acordo com ele, a petista tinha conhecimento de pagamentos feitos pela Odebrecht em favor de Mônica Moura, mulher do publicitário João Santana, responsável pela propaganda eleitoral da chapa Dilma-Temer.
Marcelo Odebrecht, entretanto, disse não saber se a ex-presidente tinha conhecimento da natureza do pagamento, se via fonte oficial ou por meio de caixa dois. Nas palavras do empresário, Dilma conhecia os valores envolvidos nas operações. A defesa da ex-presidente não foi localizada para comentar as declarações do empresário.
O depoimento de ontem foi tomado pelo ministro Herman Benjamin, corregedor-geral do TSE e relator da ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer.
Em entrevista após a oitiva, o advogado de Temer, Gustavo Guedes, disse que é necessário aguardar os depoimentos de outras testemunhas para avaliar o impacto das falas de Marcelo Odebrecht. Hoje, os ex-executivos Benedicto Barbosa Silva e Fernando Reis prestam depoimento no Rio de Janeiro. Na segunda-feira, serão ouvidos em Brasília Cláudio Melo Filho e Alexandrino Ramos de Alencar. Segundo Guedes, outras testemunhas deverão ser chamadas a depor se houver divergências de versão - o que, na prática, deve postergar a conclusão do processo.
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