O prolongamento da recuperação do ministro Eliseu Padilha – que não deve retornar aos trabalhos na Casa Civil no dia 6 de março, como era inicialmente previsto, devendo esticar a licença médica por mais duas ou três semanas em razão de uma cirurgia – dá ao presidente Michel Temer a oportunidade perfeita para a tão necessária limpeza do quadro de seus colaboradores mais próximos. No momento atual, com o Congresso analisando a reforma da Previdência – cujo desfecho terá grandes consequências, positivas ou negativas, para o equilíbrio das contas públicas e para a retomada do crescimento econômico –, o Palácio do Planalto não pode se dar ao luxo de não ter um ministro da Casa Civil atuante, que ajude a coordenar a base aliada.
Se em algum momento o presidente Michel Temer considerou que a necessidade das reformas aconselhava tolerância em relação a alguns nomes de seu Ministério envolvidos em denúncias e escândalos de corrupção, agora a situação é justamente a inversa. As reformas pedem uma pronta limpeza, sem qualquer indulgência com políticos com o histórico de Padilha.
Não se trata de desprezar o princípio da presunção da inocência, banindo pessoas da vida pública apenas por terem sido citadas em algum documento, delação ou investigação. Todos são inocentes até julgamento em contrário. A questão aqui tratada é mais simples: quem ocupa um cargo público deve estar em condições de exercer a contento as funções para as quais foi designado. E não se encontra nessas condições alguém cujo nome exige diárias explicações sobre sua conduta. Quem tem muito a esclarecer sobre o seu passado – como ocorre com alguns dos colaboradores do presidente Michel Temer –, precisa antes dirimir todas as dúvidas que pairam contra ele e só depois, usufruindo da tranquilidade que provê a cabal transparência, dedicar-se às funções públicas.
O envolvimento de uma pessoa num escândalo de corrupção ou num procedimento de investigação não interfere apenas em sua capacidade pessoal de trabalho, o que já seria motivo suficiente para deixar o governo. O problema principal é que pessoas com currículos sujos ou que demandem alguma explicação embargam o funcionamento de todo o governo. Os danos não ficam restritos a um Ministério e acabam afetando, em última instância, o próprio presidente Michel Temer.
Foi o que se viu na entrevista de José Yunes, ex-assessor e amigo de longa data do presidente Temer. A declaração de Yunes, que a princípio vinha apenas esclarecer um dado, foi ocasião para aproximar o nome de Michel Temer de um episódio que pode envolver a transferência de altas somas. É cada vez mais evidente, portanto, que as consequências dos escândalos não param nas pessoas diretamente envolvidas, tendo efeitos diretos sobre o presidente da República.
A manutenção no governo de pessoas com histórico complicado deixa, portanto, o presidente da República numa situação de vulnerabilidade, exposto a ataques que, além de enfraquecerem sua autoridade – nem se fala aqui de sua popularidade –, demandam tempo e energias.
O momento exige do Palácio do Planalto uma absoluta dedicação às reformas previdenciária, trabalhista e tributária. O destino do País – e, por consequência inarredável, do presidente Michel Temer – está vinculado à aprovação dessas alterações legislativas estruturantes. Ao mesmo tempo que são necessárias, tais reformas são de difícil aprovação, uma vez que mexem com privilégios, corporativismos e acomodações a que determinados grupos já se ajeitaram. Um governo que precisa, a cada momento, dar explicações sobre a honorabilidade de seus quadros, desarmando uma bomba a cada dia, dificilmente terá energias de sobra para levar a cabo, com sucesso, a sua importante missão. O País precisa de um governo cuja composição seja fonte de tranquilidade, e não o oposto.
Na tramitação das reformas no Congresso, o presidente Michel Temer precisará recorrer à sua conhecida habilidade política para não se tornar refém da oposição. Não há qualquer razão para se tornar, por livre e espontânea vontade, refém de seus colaboradores.
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