- O Estado de S. Paulo
Na noite do discurso do Estado da União norte-americano, o Capitólio sofre um atentado terrorista que mata de uma só vez o presidente, o vice, todo o Congresso e os principais membros do gabinete. Por uma regra prevista na Constituição, existe um ministro designado para sobreviver a esse tipo de situação, e ele vira presidente da noite para o dia.
Esta é a sinopse da série de TV norte-americana Designated Survivor, disponível no Brasil pela Netflix, e que tem Kiefer Sutherland, o icônico Jack Bauer, no papel do presidente por acaso.
Agora imagine um partido, um dos dois que polarizaram a política de um país nas últimas três décadas, que tem suas principais lideranças alvejadas politicamente de uma vez e precisa achar um sobrevivente para continuar no jogo.
Esta é a situação atual do PSDB. A diferença é que, aqui, existe alguém trabalhando dia e noite para ser o sobrevivente, mas autodesignado. É o prefeito de São Paulo, João Doria Jr.
Em 12 de fevereiro escrevi neste espaço uma coluna intitulada “Doria 2018?”, assim mesmo, com uma interrogação final. Então com pouco mais de um mês de mandato na prefeitura paulistana o tucano de plumas novas se destacava por ações vistosas de marketing e aparecia bem avaliado em pesquisas numa época em que políticos não têm essa colher de chá.
Um mês e meio depois, novas sondagens mantêm a avaliação em alta e trazem uma novidade nada trivial nem casual: Doria já é testado em cenários não só para o governo do Estado, como a referida coluna aventava, mas para a Presidência.
De lá para cá, Aécio Neves foi mais fortemente atingido pelas revelações da Lava Jato, e José Serra saiu do páreo presidencial após pedir demissão do Itamaraty por razões de saúde — e porque também sabe que terá problemas quando vierem à tona as revelações da Odebrecht.
Mas e Geraldo Alckmin? Afinal, o governador de São Paulo e padrinho de Doria não esconde há tempos seu projeto presidencial. Acontece que Alckmin também será ferido, ainda não se sabe ao certo em que intensidade, pelos desdobramentos da Lava Jato.
Além disso, Doria é, diferentemente do pacato presidente por acaso da série de TV, um homem que tem pressa e não hesita. Algo inebriado pelo próprio sucesso, o prefeito já engatou o projeto de voo mais alto que antes negava. Ele tem recebido as pesquisas que já o colocam na cédula para 2018 nos planos estadual e federal.
Numa delas, concluída na semana passada pelo Paraná Pesquisas em todo o Estado, Doria já aparece à frente de Aécio e Alckmin para a Presidência. Não bastasse testar três cenários, o levantamento foi ainda mais explícito ao incluir a seguinte pergunta: “Entre esses candidatos do PSDB, qual deles teria mais chances de ganhar seu voto para presidente do Brasil?”. E lá está o prefeito com 32%, contra 23,4% de seu criador e esquálidos 7% de Aécio.
Em pesquisas qualitativas feitas por partidos, Doria já é citado como opção fora de São Paulo. Eleitores de outros estados manifestam “inveja” dos paulistanos por serem governados por um prefeito em quem veem atributos como trabalhador, não-político e arrojado. Não por acaso os que ele tenta reforçar diuturnamente num eficiente trabalho de comunicação via redes sociais que já é copiado inclusive por um desajeitado Alckmin.
O governador percebeu a cilada que criou para si. Os dois vão negar que haja uma disputa velada, posar para fotos e jurar amizade eterna. Mas Alckmin já confessa desconforto com a ultrapassagem que sofreu quando nem olhava para o retrovisor, e Doria não se preocupa mais em pisar no freio. Em vídeo na semana passada mandou um “Acelera, Brasil!”. Ato falho? De jeito nenhum.
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