domingo, 2 de abril de 2017

Um mea-culpa comedido em busca da reconstrução

Petistas assumem erros, mas evidenciam caixa dois em vez de corrupção

Catarina Alencastro | O Globo

BRASÍLIA - Hoje a maior parte do PT reconhece que a legenda cometeu erros e que é preciso assumi-los para fazer uma reconstrução. Mas a gradação desse mea-culpa varia de acordo com a ala da sigla.

O discurso da Construindo um Novo Brasil (CNB), grupo de Lula, é que o partido errou ao reproduzir as mesmas práticas de poder dos partidos que o antecederam na Presidência da República. A sigla lamenta ter desenvolvido relação íntima com empresas, mas prefere não entrar nos supostos crimes cometidos. O partido não admite explicitamente, por exemplo, ter desenvolvido um esquema de corrupção na Petrobras, que levou à cadeia vários dirigentes da legenda. O discurso centra-se apenas na confissão do caixa dois de campanha, que também já recai sobre seus principais adversários.

O discurso interno é que seu erro de “reproduzir” práticas dos outros partidos se agravou quando se eximiu de promover uma reforma política capaz de reverter o atual modelo de financiamento e alianças, o que desembocou na intricada trama de caixa dois e relações suspeitas entre empresas e partidos. O cerne da reforma política que se debate hoje na Câmara — lista fechada e financiamento público de campanha — são bandeiras antigas do PT.

— O PT errou. Isso é inegável. Erramos ao reproduzir as mesmas práticas da política nacional, ao abrirmos mão de fazermos o diferente, de sermos o símbolo de uma nova cultura política. Mas também erramos pela ingenuidade de sermos cordiais com a estrutura de poder real do país, por acharmos que estávamos provocando mudanças “por dentro” do Estado brasileiro — diz Edinho Silva, prefeito de Araraquara e ex-ministro de Dilma Rousseff.

A “RECONSTRUÇÃO”
Afora as discussões institucionais, o partido também prepara um documento com sua visão econômica para apresentar. Haverá forte condenação às reformas da Previdência e trabalhista e uma aclamação para que os petistas reivindiquem seu legado social. Dilma não terá papel protagonista nesse movimento de “reconstrução” do PT, mas deve participar de alguns atos ao lado de Lula. Ela não decidiu se será candidata em 2018. Petistas próximos a ela a veem se movimentando para concorrer à Câmara dos Deputados.

— Vai dar muito trabalho reconstruir o partido. Mas o PT não está mais parado, está a mil por hora. Hoje está muito melhor do que no ano passado; 2016, para nós, foi uma tragédia. Em termos de futuro e esperança, está muito melhor — acredita Gilberto Carvalho, ex-ministro de Lula e Dilma.

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