Folha de S. Paulo
Nos meses em que Temer ficou nas cordas, a agenda avançou. E o os outros não fizeram propostas viáveis.
O presidente Michel Temer tem uma vantagem. Segundo os critérios adotados pelos institutos de pesquisa –e não os estou contestando necessariamente–, não há mais espaço para a queda de prestígio. Não acredito num novo surto de linchamento tendo como guias patriotas do quilate de Joesley Batista e Lúcio Funaro.
Vencida a etapa da segunda denúncia, Temer gravou um pronunciamento aparentemente simplório. Deu relevo ao óbvio: para a sua gestão, a reforma da Previdência é irrelevante. O que tiver de vir em 2018, na economia, virá porque já veio!
Daqui a pouco o país estará crescendo a 3% na média de 12 meses. Depois vai superar essa marca. O último vagão a se mover, o do emprego, arrancou, e se percebeu que a composição se movia a uma velocidade superior ao esperado.
O presidente foi suave em sua fala. Se a sociedade não quiser a reforma, então não se faça, embora ele, pessoalmente, vá nela insistir.
Analistas viram um tiro no pé. Besteira. Os mercados se moveram rapidamente –para baixo!– e anteciparam o desaire do período pós-Temer.
Se não se fizer nem a tal reforma mitigada, e tem de ser nesta gestão, as consequências começarão a ser sentidas já em meados de 2019. Em 2020, estaremos atados à mediocridade pastosa de um Estado condenado a gastar mais do que arrecada. E o presidente conseguiu pôr de novo a reforma na agenda, ainda que Rodrigo Maia –um Édipo com um pai chamado César!!!,– não ajude muito.
Nesses meses em que o MPF apelou a um espantoso estoque de ilegalidades para derrubar Temer –e a ação, obviamente, empurrou o governo para as cordas–, era de se esperar, então, que os protagonistas da vida pública brasileira ocupassem o ringue com propostas senão novas, viáveis ao menos.
Aqueles que são candidatos a substituir o atual mandatário tiveram a chance de mobilizar os brasileiros com suas ideias virtuosas... Bem, um governo com uma aprovação abaixo de dois dígitos certamente haveria de engendrar contraditórios luminosos.
E o que se viu? Maia deu piti porque julgava que lhe estavam roubando parlamentares egressos do PSB. Era a sua pauta. O PSDB, em processo de desconstituição, começou a arrumar as malas para deixar o governo. Em São Paulo, seus convencionais gritaram "Fora, Aécio!", de sorte que seu presidenciável, Geraldo Alckmin, dá partida à postulação com seus entusiastas a chutar tanto o PMDB como o braço mineiro do próprio partido.
Ciro Gomes falou mal dos juros, insultou adversários e criticou esta Folha.
De novo! Marina fez outro trocadilho de apelo telúrico-nativista-metafísico e propôs algo que não me sai da cabeça: disse ser necessário um intervalo político entre a "profunda crise atual" e a "instauração de um país republicano de fato". Pensei em 204 milhões de brasileiros reféns de um mesmo lapso temporal, que ela chamou de "transição legitimada".
Não entendi nada, mas quero saber o nome do remédio. Bolsonaro prometeu caçar pervertidos, facilitar porte de armas a todos os brasileiros, arrumar um economista que saiba o que é tripé macroeconômico e promover a independência do Banco Central. Eis aí: um país sem tarados e com BC independente! E Lula disse que nos perdoa.
Que coisa! Estou enganado, ou Temer é a única liderança com uma agenda? Desse jeito, eu ainda vou lançá-lo candidato à Presidência da República em 2018!!!
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Nota para Ricardo Lewandowski: se, como querem alguns, um ministro do STF leva insegurança à Lava Jato quando se recusa a homologar uma delação, então que se elimine a exigência e se confira ao MPF o papel também de juiz.
O ministro tomou uma decisão corajosa ao recusar os termos do acordo com o publicitário Renato Pereira. Tratava-se mesmo de uma aberração! "Ah, mas outros acordos se fizeram nos mesmos moldes e seguindo os mesmos passos". Eu sei. Aberrações! Com a chancela de Edson Fachin e Cármen Lúcia. Eu as denunciei aqui.
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