sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Presidente do PT-RJ defende plano B à candidatura de Lula

Quaquá criticou ainda a radicalização do discurso petista, que ‘não leva a nada’

Fernanda Krakovics O Globo

Na contramão da orientação dada pela direção nacional do PT, o presidente do partido no Rio de Janeiro, Washington Quaquá, defendeu, em texto publicado em uma rede social do diretório estadual, que a legenda discuta desde já um “plano B” para assumir a candidatura ao Planalto caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja declarado inelegível pela Lei da Ficha Limpa. O movimento do petista fluminense irritou dirigentes próximos ao ex-presidente que não admitem o início desta discussão.

“Precisamos discutir muito bem o que é esse negócio de não ter plano B”, escreveu o ex-prefeito de Maricá, na Região dos Lagos do Rio, em texto intitulado “Permita-me discordar”.

Para Quaquá, é preciso escalar um petista para vice da chapa e, desde já, apontar esse nome como possível substituto do ex-presidente na disputa. “Lula tem que dizer para o Brasil e para o povo: eu sou fulano e fulano sou eu”, escreveu o dirigente do PT fluminense.

Para ele, a estratégia adotada pela direção nacional do PT faz parte de um processo de reorganização do partido a médio prazo, que pressupõe a derrota nas eleições deste ano.

Quaquá demonstrou preocupação com o impacto para o resto do partido das eleições presidenciais. Para ele, Lula deveria admitir, desde agora, a possibilidade de não concorrer e passar a atuar como cabo eleitoral, de olho na formação de bancadas no Congresso e nas disputas regionais.

Embora trate do plano B, o ex-prefeito de Maricá concorda com a cúpula nacional do partido quanto à estratégia de registrar a candidatura de Lula, apesar da condenação por lavagem de dinheiro e corrupção passiva, até mesmo em caso de ordem de prisão.

REAÇÃO DOS DIRIGENTES REGIONAIS
O posicionamento público de Quaquá irritou dirigentes nacionais do PT. Embora, nos bastidores, haja articulações em torno dos nomes do ex-governador da Bahia Jaques Wagner e do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, como alternativas, esse debate está interditado no partido para não enfraquecer a defesa de Lula.

Procurada, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffman (PR), não respondeu. Uma hora depois, ela publicou, na noite de ontem, em uma rede social: “O PT não tem plano B! Lula é e será nosso candidato. O candidato do povo brasileiro”.

Na sequência, o líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta (RS), foi na mesma linha. “Oferecer outro nome é aceitar a criminalização de Lula e legitimar uma eleição que sem ele é fraude. Não vamos ajudar os golpistas a acharem uma saída para uma eleição sem nossa participação”, escreveu ele, também em uma rede social.

Quaquá publicou o texto na tarde de anteontem, após participar de uma reunião, em São Paulo, da Construindo um Novo Brasil (CNB), corrente majoritária do partido, da qual ele faz parte, assim como Lula. Segundo petistas, Quaquá não é o único a pensar assim na CNB, mas essa posição seria minoritária.

— Fazer isso é um desserviço — reclamou uma liderança do PT, em relação a Quaquá.

Em seu texto, o presidente do PT no Rio também criticou a radicalização do discurso da legenda. “O discurso esteticamente radical nosso não vai nos levar a nada. Esse discurso estreito de incitar um movimento de massa sem massa terá efeito desmoralizante”. Petistas e representantes de movimentos sociais chegaram a pregar “desobediência” a decisões judiciais.

Antes do julgamento, Gleisi Hoffmann disse, em entrevista ao site “Poder360”, que, para Lula ser preso, “vai ter que prender muita gente, mais do que isso, vai ter que matar gente". Após a repercussão de sua declaração, a senadora recuou e disse que era "força de expressão".

A tática defendida pelo presidente do PT-RJ é “ao invés de fazer bravatas e propalar uma revolução popular sem exército organizado”, fazer um trabalho de base nas periferias, “didático”, nos próximos cinco meses, para mobilizar a população em solidariedade ao ex-presidente.

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