- Valor Econômico
Negociar alianças tornou-se urgente para Alckmin
O PSB é um partido que, em tese pode se aliar com todo mundo este ano, menos com Jair Bolsonaro. Está com o governador Geraldo Alckmin, portanto com o PSDB, como também pode estar alinhado com o PT, fechar com Ciro Gomes, perfilar com Marina Silva, lançar Joaquim Barbosa, Aldo Rebelo e até Beto Albuquerque. Não há no Brasil partido mais dividido, desde a morte de Eduardo Campos.
O PSB herdará o governo de São Paulo com a desincompatibilização de Geraldo Alckmin para disputar a Presidência dentro de dois meses, ao que tudo indica. O vice-governador Márcio França, do PSB, conhecido pelo pragmatismo e pela capacidade de articulação política, já se anunciou candidato a uma reeleição em seu próximo cargo, jurou fidelidade a Alckmin na eleição em outubro e começou a montar a sua aliança, com a periferia do apoio ao governador paulista: PR, Pros e Solidariedade. Quer e precisa de mais para se viabilizar.
Nos sonhos que França já teve, Alckmin construiria uma aliança complementar em termos eleitorais, juntando a força tucana no Sudeste com a esquerda não petista no Nordeste. Um vice nordestino do PSB, de preferência pernambucano, fecharia a equação e sua presença em São Paulo seria o eixo condutor.
A complexa equação de Pernambuco impede que esta armação pare em pé. O governador Paulo Câmara massacrou nas urnas em 2014 o senador Armando Monteiro Neto, do PTB, mas as alianças trocaram de sinal naquele Estado. Monteiro hoje está próximo do DEM, do PSDB e do MDB, todas legendas que haviam sido atraídas para o PSB na época em que Campos vivia.
Desta quadra - PTB, DEM, MDB e PSDB - se supõe que sairá uma candidatura ao governo estadual muito forte para enfrentar Câmara nas urnas. O governador corre então o risco de isolamento, ou de ser empurrado a uma aliança com o PT.
A situação natural das alianças regionais no Brasil contrapõe assim o vice-governador de São Paulo ao governador de Pernambuco e o PSB hoje tem pouco mais do que o controle de governos estaduais como ativo político.
Para Alckmin, o impasse no PSB gera situação espinhosa: em São Paulo, ele corre todos os riscos que se impõem quando se opta por um palanque duplo logo em sua base eleitoral. Em Pernambuco, apoiar Câmara pode carregar água para um moinho nocivo ao governador: o de se formar uma sustentação para uma candidatura presidencial do MDB ou do DEM, ou até de ambos. Está aí o vereador Cesar Maia, pai de um presidenciável, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), falando que "quanto mais candidatos, melhor".
Em um cenário em que a revolta do eleitor com a classe política é um dado real, a prenunciar uma explosão de votos brancos e nulos; e em que impera entre os que não pretendem fazer a escolha radical um certo cinismo, é essencial para Alckmin a escassez de opções para a Presidência. O governador de São Paulo gostaria de aparecer como o detentor do monopólio da sensatez, da moderação e da ausência de sustos no cenário eleitoral. Sua estratégia está montada em muita máquina partidária, muito tempo na televisão e na doutrina do mal menor, de ser a opção que resta a todo mundo.
A fragmentação é claramente ruim para Alckmin, porque vai anulando a vantagem da máquina e cobrando mais das suas potencialidades carismáticas, da sua capacidade de estabelecer empatia com o eleitor. E ao DEM e ao MDB interessa fazer bancada. Uma oferta tucana de alianças que inclua apoio a uma nominata de candidatos estaduais destes partidos pode ser interessante. Em outras palavras, a aliança prioritária para Alckmin em Pernambuco, a composição que enxuga o quadro de candidatos fora do campo, não é com o PSB, mas sim com seus rivais no Estado.
A dinâmica interna no PSB permite dizer que não é razoável imaginar uma aliança nacional da sigla ou uma candidatura própria que não passe pelo Campo das Princesas. E isto distancia a sigla do governador paulista.
Uma saída de Márcio França do PSB para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes por outra sigla, possivelmente o PSDB, está no campo do boato. Quem falou nisso publicamente foi o prefeito João Doria em uma entrevista à rádio Bandeirantes, um pouco em tom de blague, ou desafio, de quem sabe que sugere algo improvável. O alvo central de Doria é inviabilizar um apoio tucano ao PSB em São Paulo, para que ele, Doria, se viabilize candidato.
França jamais teve outro partido na vida, a cúpula do PSB desmente, dirigentes do PSDB desmentem, mas o rumor ganhou pernas e começou a andar porque possui sua lógica interna. E uma lógica poderosa. Não é à toa que pelo menos dois secretários estaduais de Alckmin e um deputado federal tucano estariam engajados nesta operação. Um movimento partidário de França significaria Alckmin desistir de uma aliança orgânica com o PSB e unificar sua base em São Paulo, desde que soubesse controlar a reação dos únicos tucanos paulistas com densidade eleitoral além do governador: o prefeito João Doria e o senador José Serra. França no PSDB é um jabuti na forquilha: precisa ser colocado lá. Alckmin é um anestesista, sabe anular os efeitos dolorosos de traumas, mas precisaria testar dentro do partido que preside seus dotes de cirurgião.
Mantido o quadro atual, deixando a natureza correr seu curso, o desenlace mais provável é o da candidatura própria do PSB à Presidência ou o da abdicação da sigla em tomar uma posição nas eleições presidenciais.
Para o PSB ter candidato próprio, precisa ter alguém que queira fazer o jogo de entrar na disputa presidencial para compor uma cena, enquanto o partido tenta reeleger França, Câmara, Rollemberg e fazer as suas outras apostas pelo Brasil. Seria uma candidatura presidencial colocada desde o início em segundo plano, para cumprir uma missão partidária. Dificilmente Joaquim Barbosa se enquadrará neste figurino.
Caso Rodrigo Maia decida embarcar na candidatura presidencial, como hoje parece mais provável, é natural que a aliança anti-Câmara em Pernambuco também passe a gravitar em torno da candidatura presidencial do DEM. Neste caso, com França no PSB e o PSDB paulista resistindo a apoiá-lo, o governador paulista vai cavando muros ao seu redor. Alckmin preferia fazer isso mais adiante, mas negociar alianças tornou-se urgente.
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