Blog do Josias de Souza – UOL
“Contem comigo. Mas não como candidato a presidente”, escreveu Luciano Huck na última frase de um artigo que publicou na Folha em 27 de novembro de 2017. Entretanto, essa carta ainda não está fora do baralho da sucessão presidencial de 2018, informou ao blog o deputado Roberto Freire, presidente nacional do PPS. “A candidatura Huck continua sendo uma hipótese. Ele ainda não exclui totalmente a possibilidade”, disse Freire.
Veja aqui a entrevista no UOL
Antes da veiculação do texto que marcou a hipotética retirada de cena da postulação do apresentador da TV Globo, Freire participara de reuniões com Huck. Os dois permaneceram em contato, pois o PPS de Freire se dispôs a recepcionar em seus quadros membros de movimentos cívicos ligados a Huck. A última conversa entre ambos ocorreu na semana passada, pelo telefone.
Nesta quarta-feira (31), Huck voltou às páginas da Folha, desta vez como personagem de uma sondagem eleitoral. Incluído pelo Datafolha num cenário sem a presença de Lula, o não-candidato amealhou 8% das intenções de voto. Sem jamais ter exercido funções públicas, empatou com o tucano Geraldo Alckmin, que governa São Paulo pela quarta vez e se equipa para disputar sua segunda eleição presidencial.
Ironicametne, o PPS também considera a hipótese de apoiar Alckmin. Mas Freire se refere a Huck como “o fato novo dessa eleição.” Nas palavras do deputado, o apresentador “atravessa um momento de decisão.” O prazo para saber se a foto de Huck estará na urna se esgota em 7 de abril. Esse é o último dia para que os candidatos se filiem a algum partido político.
Vai abaixo a entrevista com Freire:
— Tem conversado com Luciano Huck?
Falei com ele recentemente. Enviei um WhatsApp informando como estava o encaminhamento do processo de incorporação de pessoas dos movimentos ligados a ele: ‘Agora’ e ‘Renova’. Disse que está tudo pronto. Assinaremos uma carta-compromisso com esses movimentos.
— Luciano Huck respondeu à sua mensagem?
Entrou em contato comigo rapidamente, pelo telefone. Me ligou de Paris. Ele não é uma pessoa que está alheia às coisas que estão acontecendo no país.
— Conversaram sobre a eleição presidencial?
Diretamente, não. Mas ele falou que está fazendo pesquisas. Nem precisava, porque o Datafolha já fez. Mas creio que ele fará. Ficamos de conversar. Não sei quando vai ser. Provavelmente, depois do Carnaval.
— Esse contato foi recente?
É muito recente. Foi na semana passada. Já tinha saído a sentença condenatória do Lula.
— Quantas pessoas dos movimentos Agora e Renova serão incorporadas ao PPS?
Isso está em fase de discussão nos Estados.
— O que diz a carta-compromisso que o PPS firmará com os movimentos?
O princípio básico previsto na carta é que eles vão manter a autonomia, funcionando como movimento. Aqueles que se filiarem ao PPS passam a ser do partido, mas terão dupla militância. E os movimentos poderão participar de todos as reuniões e debates do partido, inclusive as pessoas que optarem por não se filiar ao PPS. A única limitação para os não-filiados é que não poderão votar nas questões administrativas ou na escolha de dirigentes partidários.
— Essa negociação pode levar à alteração do estatuto do partido?
Sim, claro. Teremos um Congresso Nacional do PPS, com poderes para mudar o estatuto. Será de 23 a 25 de março. Estamos conversando com outros movimentos também. O mundo todo está rediscutindo o papel dos partidos e da democracia representativa. No Brasil, há uma agravante: o desmantelo provocado pela Lava Jato. A estrutura política do país está sob questionamento. Além dos problemas universais do modelo representivo, temos as questões tipicamente brasileiras. Há um processo de desmoralização da atividade política. Precisamos nos mexer. Estamos conscientes disso. O sistema velho ainda não morreu. E não há clareza sobre o que será o novo. O PPS está aberto ao novo, que pode ser representado por esses movimentos. No Brasil, não há como disputar eleições senão por meio de partidos. Nossa legislação não permite que movimentos lancem candidaturas. Se esse nosso entendimento crescer, podemos constituir um partido-movimento.
— Qual é o papel do Luciano Huck nesse processo?
O Huck está integrado ao projeto. Se ele será candidato, ainda não decidiu. Mas o processo político tem uma dinâmica própria. Não sabemos o que será essa eleição de 2018. Não dá para dizer se disputa será protagonizada por políticos e partidos tradicionais ou se o protagonismo será exercido pelo novo. Se não houvesse o tempo de televisão e o monopólio dos partidos sobre o fundo eleitoral, grandes legendas como PT, PSDB e PMDB provavelmente seriam varridas do mapa.
— Falando objetivamente, como presidente do PPS, acha mesmo que a candidatura presidencial de Luciano Huck não foi descartada?
Sim. A candidatura Huck continua sendo uma hipótese. Ele ainda não exclui totalmente a possibilidade.
— Na última conversa que o PPS teve com Luciano Huck sobre candidatura presidencial ficou um espaço para rediscussão futura ou ele deu o assunto por encerrado?
Ele não é candidato. Mas ficou evidente que, dependendo da evolução do quadro, isso pode ser rediscutido.
— Haverá um encontro entre março e abril para deliberar sobre a eventual candidatura de Huck?
Sim.
— Quais são as variáveis que estão em jogo?
Hoje, temos dois caminhos. Um deles é apoiar a candidatura de Geraldo Alckmin, que pode se consolidar. Essa seria a alternativa se tivéssemos que fazer uma escolha sem uma opção que represente o novo. O outro caminho, dependendo do desempenho, envolve uma opção pela novidade. Que pode ser o Huck. Temos conversado muito no partido sobre isso.
— No principal cenário da pesquisa Datafolha, já sem o Lula, Alckmin e o não-candidato Huck aparecem empatados com 8%. O que achou?
Perceba que essa nossa conversa só está acontecendo por causa do desempenho do Huck. Ele é, inegavelmente, o fato novo dessa eleição. E atravessa um momento de decisão. Não é fácil. Entrar na política não é uma decisão banal. O processo é ainda mais complexo para uma pessoa que nunca exerceu mandato, sempre esteve vinculado à sua atividade profissional privada. Sei como funciona. Já aconteceu comigo lá atrás. O sujeito tem problemas com a mulher, com a família. Há muita dúvida. A pessoa se pergunta: onde estou me metendo? É uma mudança radical. E a decisão é solitária.
— Diante de todas essas dificuldades, por que o PPS mantém a avaliação de que Luciano Huck ainda pode ser candidato?
Quando a pessoa admite a discussão e o assunto sobrevive, mesmo que na forma de hipótese, vai chegando uma hora em que uma decisão tem de ser tomada. Isso se dará sob grande pressão. A pressão é objetiva, não hipotética. Se a pessoa cresce na pesquisa, a opinião pública começa naturalmente a exercer uma pressão sobre ela. O Huck admitiu que esse jogo fosse jogado. Quem passa pela partida preliminar sabe que pode chegar ao jogo principal.
— As alternativas do PPS, Alckmin e Huck, são muito diferentes. Um governou São Paulo quatro vezes. Outro não tem nenhuma experiência política. Como decidir entre um e outro?
Não vejo isso como algo ruim. Estamos lidando com as alternativas que a realidade eleitoral nos apresenta. Será que terá força o partido tradicional? Será que essas eleições serão marcadas pelo mesmo tipo tradicional de política das disputas anteriores? Será que chegou a hora do novo?
— Pelas conversas que manteve com Luciano Huck, acha que ele tem condições de encabeçar uma chapa presidencial?
Ele tem, sim, todas as condições para isso. Dispõe de formação acadêmica. É jornalista. Possui estrutura familiar sólida. Não é um aventureiro. Tem noção do que é a política. Começou a cogitar uma candidatura presidencial a partir desses movimentos nascidos na sociedade com o propósito de influir nos destinos da política, atraindo e formando quadros com algum realce em suas atividades profissionais.
— Foi nesse contexto que ele admitiu a candidatura presidencial?
Exatamente. Ele colocou sua candidatura em debate e, na sequência, recuou. Creio que deu um passo atrás muito mais por pressão da Globo. Ele achava que não tinha razões para definir em dezembro algo que não estava totalmente claro. Daí o recuo.
— Por que acha que ele pode reconsiderar?
O simples fato de ele dizer que deseja manter seu nome nas pesquisas é um sinal de que a possibilidade existe.
— O PPS trabalha com uma data-limite para a definição?
Não. O prazo fatal será entre março e abril. Até porque existe uma data que é definitiva: o prazo de filiação partidária. Esse prazo termina em 7 de abril. O Congresso partidário que faremos no final de março pode ser um encontro de afirmação de uma candidatura. Até lá, creio que já saberemos se o Huck será candidato ou não. Ele tinha a consciência de que, como já é muito conhecido, não precisava apressar a decisão. Mas tem o momento da definição. Se ele se filiar, acabou a discussão.
— O senador Cristovam Buarque manifestou o desejo de disputar o Planalto pelo PPS. Não considera essa hipótese?
É um ótimo candidato. Mas não é apenas uma questão de mérito. O candidato tem que ser bom e ter voto para chegar à Presidência. Não podemos discutir alternativas que, a despeito de ter todos os méritos, são destituídas da capacidade eleitoral para um embate nacional. Por isso analisamos as alternativas representadas por Alckmin e Huck. Há no partido os que avaliam que temos que apostar no novo. Há também os que enxergam em Alckmin uma alternativa que pode responder melhor às necessidades do país. Esse grupo está localizado especialmente no PPS de São Paulo.
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