Evasivas revelam como letargia e irresponsabilidade levaram ao trágico desabamento em SP
O mais chocante no desabamento de um prédio de 24 andares no centro de São Paulo —depois, claro, do drama das vítimas— é que nada de surpreendente se apontou na tragédia de 1º de maio.
Decerto se aguardarão, nos próximos dias, a contagem definitiva de mortos e feridos e o esclarecimento dos motivos do incêndio que levou abaixo a construção, onde viviam irregular e precariamente cerca de 150 famílias.
Mas as autoridades demonstraram pleno conhecimento do que ali se passava, assim como rapidez em se eximir de culpas.
O prefeito Bruno Covas (PSDB) relatou que a administração municipal realizou neste ano seis reuniões com representante dos moradores, alertando-os dos riscos do local. Seu correligionário João Doria, titular da cadeira até abril, disse que o edifício estava ocupado por uma facção criminosa, abrigando, inclusive, o tráfico de drogas.
Quem de fato gerenciava o prédio era o movimento Luta por Moradia Digna —que, conforme depoimentos a jornalistas, cobrava aluguel dos residentes, um quarto deles estrangeiros.
Ricardo Luciano Lima, coordenador do LMD, afirmou que está havendo tentativa de responsabilizar a agremiação sem levar em conta as deficiências habitacionais da cidade. O presidenciável Guilherme Boulos (PSOL) tratou de esclarecer que a invasão não era patrocinada por seu Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
“Tragédia anunciada” foram as palavras do governador paulista, Márcio França (PSB), que se lembrou de reclamar de outras instâncias do Estado —o Ministério Público e a Justiça, que costumam barrar ações de reintegração de posse.
Dono do imóvel, o governo federal tampouco quis responder pelo desabamento. Em nota, recordou que o local fora cedido provisoriamente em 2017 à prefeitura paulistana, com a previsão de que abrigasse a Secretaria de Educação.
O presidente Michel Temer (MDB), que visitou o local por poucos minutos, limitou-se a prometer assistência às vítimas.
As múltiplas escusas, como se vê, praticamente contam a história da ruína do Edifício Wilton Paes de Almeida, um marco arquitetônico da cidade erguido nos anos 1960 e abandonado pelo poder público na década passada.
É provável que haja parcelas de razão de lado a lado. Tanto as políticas governamentais falham em prover habitação quanto os movimentos de sem-teto incentivam irresponsavelmente a invasão de áreas inabitáveis, contando com a leniência do Estado.
De omissões, letargia decisória, subestimação de riscos e transferências de responsabilidade resultou o desastre no largo do Paissandu. A queda do prédio ocorreu ao longo de anos, aos olhos de todos.
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