- O Globo
A tragédia de ontem em São Paulo deveria exigir um debate a sério sobre a carência de moradia digna no Brasil. O assunto é urgente, mas tem sido praticamente ignorado pelo poder público. O tema também parece distante da agenda dos principais candidatos que disputarão a Presidência.
Em 2015, o déficit habitacional no país chegou a 6,35 milhões de lares, de acordo com a Fundação João Pinheiro. Na comparação com o ano anterior, o problema se agravou em 20 das 27 unidades da federação. É preciso esperar o próximo levantamento para se conhecer todo o estrago provocado pela recessão.
Os efeitos da crise econômica são visíveis. Basta andar pelas grandes cidades para constatar o aumento da população de rua. Para não ficar ao relento, muitas famílias buscaram alojamento precário em favelas e cortiços. Outras engrossaram invasões de prédios abandonados.
Era o caso do edifício que desabou no Largo do Paissandu, no centro da capital paulista. A torre de 24 andares estava ociosa desde 2009. Pertencia ao governo federal, como tantos imóveis esquecidos pelo país. Sucessivos governos lavaram as mãos para o problema. No Rio, um edifício do IBGE passou cerca de 20 anos ocupado em condições insalubres. As famílias só foram removidas na sexta passada, por ordem da Justiça. O local dará lugar a um condomínio do Minha Casa, Minha Vida.
O programa habitacional da era petista repetiu erros do antigo BNH, como a construção de grandes conjuntos afastados dos centros urbanos. Mutuários também reclamam do uso de material de má qualidade, um truque para baratear obras e aumentar os lucros das empreiteiras.
É uma desumanidade culpar as famílias pelo desabamento de ontem, como se viu no submundo das redes sociais. Ninguém vive em condições precárias por opção. Sobreviventes relataram o medo de levar os filhos para abrigos ocupados por “noias” (usuários de crack), o que só demonstra a insensibilidade do poder público para lidar com os mais pobres.
Resolver o déficit habitacional é caro, mas não é impossível. Segundo o IBGE, o Brasil tem 7,9 milhões de imóveis vazios. Boa parte poderia ser reaproveitada numa reforma urbana, outro tema evitado pela maioria dos pré-candidatos.
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