quarta-feira, 2 de maio de 2018

Desempregado fica 24 horas na fila

No Dia do Trabalho, 30 mil pessoas enfrentaram fila no Engenhão para disputar uma das cinco mil vagas oferecidas. Os primeiros chegaram com 24 horas de antecedência.

Desempregados ficam mais de 24 horas na fila por uma vaga

Trinta mil pessoas vão ao Engenhão concorrer a um dos 5 mil postos

Marcela Sorosini | O Globo

O Dia do Trabalhador foi de fila e esperança para desempregados no Rio. Milhares de pessoas amanheceram ontem no Estádio Nilton Santos, o Engenhão, em busca de uma vaga de trabalho. Os primeiros candidatos a um dos cinco mil postos oferecidos chegaram com mais de 24 horas de antecedência.

A abertura dos portões ocorreu às 8h15m e, uma hora depois, mais de duas mil pessoas já estavam no interior do estádio. Dentro do Engenhão, os candidatos eram atendidos por voluntários e encaminhados de acordo com a oportunidade oferecida pelas empresas parceiras. Entre os cargos, havia vagas de operador de telemarketing e vendedor de loja.

De acordo com o Instituto Fazer o Bem Faz Bem, que organiza o evento com apoio da Comunidade Católica Gerando Vida, cerca de 30 mil pessoas estiveram no estádio ontem em busca de uma vaga.

‘DORMIMOS NO PAPELÃO’
Morador de Bonsucesso, na Zona Norte, Noriemberg Silva Valle, de 51 anos, não trabalha com carteira assinada há um ano e foi o primeiro a chegar no Engenhão, às 6h de segunda-feira:

— Dormimos no papelão aqui na porta. Fui despedido quando a farmácia onde trabalhava trocou a empresa que prestava serviço — lamentou o eletricista.

Rafael Fernandes dos Santos, de 35 anos, contou que foi o segundo a chegar no estádio, também na manhã de segunda. Apesar da experiência como vigilante, está disposto a mudar de área para garantir uma vaga:

— Quero o emprego que aparecer. Eu tenho dois filhos, e minha mulher também não está trabalhando. Trouxe só um casaco e passei a noite toda aqui. Posso virar ajudante de loja ou outra coisa, basta me darem uma chance. Espero sair dessa seleção com uma boa notícia.

As amigas Silvia Rici, de 38 anos, Bruna Machado, de 33, e Eliane Paula, de 26, saíram do bairro Jardim Paraíso, em Nova Iguaçu, na tarde de segunda-feira, pegaram um ônibus até Campo Grande e um trem até o Engenhão. Chegaram por volta das 19h20m no local. Mesmo assim, só conseguiram senha a partir do número 280.

— Ficamos aqui a noite toda, trouxemos sanduíche, pastel e suco. Outros candidatos brincavam e diziam que parecia piquenique, mas não tínhamos o que fazer. A noite toda foi um estresse, com medo de que as pessoas furassem fila — contou Silvia.

Nem mesmo a filha pequena foi um impedimento para Daniele Maria da Silva Oliveira, de 25 anos, tentar uma oportunidade de trabalho. A jovem foi se candidatar com apoio da pequena Elisa, de 1 ano e 9 meses:

— Não posso ficar parada. Quase desisti quando vi a fila, mas insisti e saí com uma entrevista marcada para o dia 8 numa empresa de telemarketing.
Colaborou Bruno Rosa

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