Por Raymundo Costa | Valor Econômico
BRASÍLIA - A candidatura do presidente Michel Temer perdeu terreno dentro de casa, o MDB, e abriu espaço para outras alternativas para o partido na eleição presidencial deste ano. Atualmente, a hipótese mais provável é que o MDB fique sem candidatura própria, a exemplo do que aconteceu em 2006, e libere as seções regionais do partido para fazer as alianças mais convenientes em cada estado, mas não está fora de cogitação - embora difícil - a hipótese de apoio ao candidato de um outro partido.
A candidatura à reeleição de Temer nunca foi unanimidade no Palácio do Planalto, mas arrefeceu o otimismo de alguns auxiliares mais próximos com a possibilidade de o presidente reverter sua situação nas pesquisas. O governo, também, está hoje mais fraco que ontem, o que tem sido uma tendência, o Congresso paralisado enquanto Temer vê a Polícia Federal bisbilhotar a intimidade de sua família e dos amigos. A terceira denúncia é uma ameaça permanente sobre a cabeça do presidente da República.
Hoje a candidatura de Temer teria um único objetivo: dar ao presidente o tempo de rádio e televisão do MDB nas eleições para que ele possa se defender em horário nobre, sem as limitações das notas oficiais emitidas pelo Palácio do Planalto. Não é a situação ideal para o MDB, um partido cuja força reside no poder estadual, mas auxiliares de Temer ainda acreditam que o partido não negará seu tempo na televisão para o presidente se defender das denúncias contra ele do Ministério Público.
A fragilidade do presidente permitiu a volta à cena de seus adversários no MDB. O senador Renan Calheiros (MDB-AL), por exemplo, afirma que a necessidade de preservar o MDB "não se conjuga" com a candidatura de Temer ou mesmo a Henrique Meirelles, o ex-ministro da Fazenda que se filiou ao partido com o objetivo de se candidatar ao Palácio do Planalto. Calheiros defende a solução de 2006, quando o então PMDB recusou se associar ao PSDB, cujo candidato era Geraldo Alckmin, na eleição presidencial.
À época, o PMDB, comandado pelo mesmo grupo hoje na Presidência, patrocinou uma prévia que elegeu o ex-governador Anthony Garotinho. A convenção partidária derrubou a candidatura do ex-governador do Rio e deixou o partido "solto" nas eleições. Tudo o que queria o presidente em busca da reeleição, Luiz Inácio Lula da Silva. No momento, Lula está preso em Curitiba (PR), mas ainda mantém influência sobre o partido, especialmente no MDB nordestino. Calheiros, por exemplo, acredita que Lula vai disputar a eleição "sub judice". E mesmo preso Lula é visto como um líder capaz de transferir votos e eleger candidatos.
Mais difícil é uma coligação com o PSDB de Geraldo Alckmin, a exemplo do que aconteceu em 2006. Temer e seus principais conselheiros como o ministro Moreira Franco (Minas e Energia) são contrários a uma aliança presidencial com os tucanos, mas há mais que isso: PSDB e MDB travam uma guerra de morte em uma dezena de estados, o que dificulta ainda mais a articulação de uma aliança nacional, seja com Alckmin, Lula ou para a candidatura cambaleante de Michel Temer.
Em São Paulo, Temer não deve mover uma palha para retirar a candidatura de Paulo Skaf ao governo estadual. Ele viajou no sábado a Jaguariúna, cidade próxima a Campinas, para participar, ao lado do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, de mais um lançamento da candidatura de Skaf.
O que está em jogo, para o MDB, é a sobrevivência partidária. Na janela para a troca de siglas o partido perdeu 15 deputados e sete senadores - foi a sigla mais atingida. No Senado, onde tem sido francamente majoritário, nas últimas legislaturas, só quatro dos atuais senadores ainda têm mais quatro anos para cumprir de mandato. A expectativa era eleger nove senadores, cálculo revisto pelo partido para sete. Outro fator que causa inquietação é que o financiamento de uma candidatura presidencial deve drenar a maior parte dos recursos do fundo eleitoral. Temer é o senhor da partilha dos recursos.
É nesse contexto que perde força a candidatura de Michel Temer, um presidente cuja aprovação não sai da casa de um dígito das pesquisas - ou seja, um peso morto que político nenhum gosta de carregar em eleições. (colaborou César Felício, de São Paulo)
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