Resultados da indústria decepcionam no 1º trimestre e levam a previsões mais modestas para o PIB; lado positivo é que inflação e juros devem continuar baixos
A produção industrial estagnada em março é o mais recente dos indicadores que decepcionaram ao longo do primeiro trimestre —e acentuaram as dúvidas quanto ao ritmo da retomada econômica.
Houve ligeira queda, de 0,1%, em relação a fevereiro. No trimestre, houve crescimento zero ante o período outubro-dezembro. Interrompeu-se, dessa maneira, a sequência de resultados favoráveis iniciada em meados do ano passado, que levou o setor a uma expansão de 2,4% em 2017.
Nas últimas semanas, da mesma forma, outros mercados e atividades mostraram fraqueza. De mais preocupante, a geração de empregopatina nos últimos meses.
Embora haja certa discrepância entre os dados do IBGE, que contemplam o trabalho informal, e os do Ministério do Trabalho, com foco apenas nos postos com carteira assinada, pode-se notar que houve perda de dinamismo. A taxa de desocupação, de 13,1% de janeiro a março, permanece muito alta.
Fatores que impulsionaram o consumo no ano passado —como a queda da inflação, num contexto de dissídios salariais baseados em índices de preços mais altos do passado— não se verificam agora.
Em janeiro de 2017, o salário mínimo foi corrigido em 6,5%, com base na variação do custo de vida nos 12 meses anteriores; nos 12 meses seguintes, o INPC mal passou de 2%. Neste ano, a correção ficou em apenas 1,8%, abaixo da inflação esperada até dezembro.
Pelo lado dos investimentos, a letargia está associada à incerteza eleitoral e à paralisia das obras de infraestrutura, sobretudo na área de transportes, que dificultam a recuperação do setor privado.
Há também restrições de crédito, tendo em vista a inadimplência ainda elevada das empresas, embora a situação das famílias já se mostre melhor —nos últimos anos houve sensível redução do endividamento das pessoas físicas.
Na soma geral, a expectativa de que a economia pudesse crescer 3% ou mais neste ano ficou comprometida. Com os últimos dados, a maior parte dos analistas hoje espera alta do Produto Interno Bruto mais próxima dos 2,5%.
Não se trata, até agora, de inversão de tendência, mas de ajuste na velocidade. É algo de certa forma natural depois de uma recessão profunda, tornada ainda mais complexa pelo colapso das finanças públicas, pelo excesso de passivos privados e pela incerteza quanto à continuidade das reformas.
A sensação persistente de fragilidade também acompanhou por alguns anos a maior parte dos países desenvolvidos, cada qual com suas particularidades, depois da crise financeira de 2008, sem que tivesse havido recaída.
No Brasil, ao menos o horizonte para manutenção de inflação e juros baixos vai se alargando, o que terá impacto positivo ao longo do tempo. A gradual aceleração da atividade ainda parece ser o cenário mais provável, que, no entanto, dependerá das escolhas de política econômica após as eleições.
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