Dados mostram que aumento do número de registros coincide com crescimento de homicídios no país
Nada é por acaso. Recentemente, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou números catastróficos sobre a violência no país. Em 2017, foram registrados 63.880 assassinatos, um recorde desde que a organização começou a contabilizar os dados, em 2006. O que significa dizer que, a cada hora, sete pessoas são mortas de forma intencional no Brasil. Pela primeira vez, a taxa de homicídios ultrapassou a barreira dos 30 por 100 mil habitantes, ficando em 30,8 —quatro vezes a média mundial.
No país como um todo, o número de assassinatos aumentou 3,7% entre 2016 e 2017, o que representa 2.283 homicídios a mais. O quadro se torna mais assustador quando se observa que em alguns estados a expansão foi ainda maior. No Ceará, o número cresceu 48,6%; no Acre, 41,8%, e, em Pernambuco, 20,3%.
Essas estatísticas ganham mais sentido à luz de outros números. Como mostrou reportagem do GLOBO, a aquisição de armas de fogo por cidadãos aumentou dez vezes desde 2004, quando foi regulamentado o Estatuto do Desarmamento. Naquele ano, sob impacto da nova lei, foram registradas apenas 3.055 armas. Mas, a partir de 2008, o patamar mudou. Em 2015, já foram 36.807. E não baixou mais.
Não à toa, esse aumento do número de registros de armas coincide com o crescimento da quantidade de homicídios no país. E não poderia ser diferente. É lógico que quanto mais armas em circulação, maior a probabilidade de pessoas feridas ou mortas. Não importa se as armas são legalizadas ou não. Até porque estudos já mostraram que boa parte delas vai parar nas mãos de bandidos. Não adianta fechar os olhos para essa realidade.
Convém lembrar que a munição que matou a vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, em março, no Estácio, saiu de um lote legal, comprado pela Polícia Federal e desviado, sabe-se lá como, para as mãos de criminosos.
Até nos Estados Unidos, onde a venda de armas é liberada, a falta de controle sobre esse comércio legal vem sendo questionada, após sucessivos massacres em que os atiradores não encontram barreiras para montar seu arsenal. E revela-se frágil o argumento de que o número de homicídios é pequeno frente à quantidade de armas. Organizações especializadas sustentam que a taxa de assassinatos por armas de fogo nos EUA é 25 vezes maior do que a de países desenvolvidos.
No Brasil, apesar da eloquência dos números, é preocupante a forma como o tema tem sido abordado na campanha para a Presidência. O candidato Jair Bolsonaro (PSL) costuma defender que os cidadãos possam ter armas “para se proteger”. Geraldo Alckmin (PSDB), para não deixar o concorrente sozinho, já acena com a liberação em áreas rurais. Como se elas não fossem parar nas cidades.
É certo que o país vive uma epidemia de violência. E não é com mais armas que conseguirá curar essa chaga. Ao contrário, só fará aumentar a sangria.
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