Presidente Jair Bolsonaro. Três palavras que eram impensáveis um ano atrás agora se tornaram o futuro do país, porque assim o desejaram 58 milhões de brasileiros. Tendo sido impulsionado pelas elites, Bolsonaro atingiu os rincões do Brasil e os estratos mais numerosos da sociedade. Aproveitou-se de um establishment complacente para impor-se a ele como alternativa viável e esperança única. E com 55% dos votos válidos obteve a vitória legítima que só o sistema democrático proporciona.
Outros 47 milhões de eleitores, no entanto, disseram: “Ele não”. Estes, somados aos 43 milhões que não votaram, anularam ou votaram em branco, formam uma inegável maioria de 90 milhões de brasileiros que não sufragaram o candidato do PSL. Para esses milhões de brasileiros — e para grande parte do restante do mundo —, o 38º presidente do Brasil é motivo de apreensão, dúvida e até desespero.
Depois de um ano e meio de tuítes erráticos e discursos incoerentes, de uma campanha calculadamente feita por meio de redes sociais e aplicativos de mensagens, não é possível ter certeza sobre quem foi eleito presidente da República. Não se sabe como Bolsonaro executará as funções básicas do Poder Executivo. Não se sabe se ele tem alguma ideia do que significa liderar o país em questões candentes da política, da economia e da sociedade. Não se sabe se ele tem capacidade de se concentrar em qualquer questão e chegar a uma conclusão que se possa qualificar como seu projeto de governo.
Seus primeiros pronunciamentos mostraram-se contraditórios. Prometeu cumprir a Constituição e em seguida ameaçou usar o poder da máquina federal para fazer desaparecer um jornal. Negou que vai “esmagar” a oposição, mas reiterou a proposta de expurgar as lideranças de PT e PSOL.
O que se sabe é que, por palavras e ações do passado, Bolsonaro se mostrara temperamentalmente incapaz de liderar uma nação diversificada de 240 milhões de pessoas. Soltou diatribes para depois recuar com explicações toscas. Ele insultou mulheres e gays e galvanizou o recrutamento de apoiadores numa combinação sombria de racistas, supremacistas brancos e misóginos.
Muitos de seus aliados representam ideias retrógradas numa gama de temas que vão dos comportamentais aos científicos. Um de seus assessores cogitou repudiar o Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas, a maior ameaça de longo prazo à humanidade. Prometeu ainda ampliar o desmatamento na Amazônia, estimulando atividades agropastoris devastadoras para o meio ambiente.
Em quatro anos, Bolsonaro pode ter a chance de indicar até três ministros para o Supremo Tribunal Federal. Sua primeira sugestão — o juiz Sergio Moro — sofreu críticas veladas de ministros das Cortes superiores, sinalizando atritos ainda mais graves do que os gerados pelas críticas boquirrotas feitas por um de seus filhos ao guardião constitucional.
Nas próximas semanas, o futuro governo Bolsonaro se desenhará. Não será tarefa fácil pacificar e tranquilizar o país. Não será tarefa fácil reequilibrar as contas públicas, promover o desenvolvimento para gerar emprego e renda e atuar de forma a reduzir a desigualdade abissal na sociedade brasileira. O presidente eleito anunciou-se à nação como um soldado em missão. O problema dos soldados é que estão sempre a contemplar um inimigo. Um país, entretanto, desenvolve-se com ações harmônicas e complementares de seus governantes e cidadãos.
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