Murillo Camarotto, Luísa Martins, Isadora Peron e Fabio Murakawa | Valor Econômico
BRASÍLIA - O presidente eleito Jair Bolsonaro disse em seu discurso de diplomação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ontem, que as redes sociais eliminaram a necessidade de intermediação para o exercício do que chamou de "poder popular". De acordo com ele, as eleições deste ano marcaram uma virada na relação entre a população e seus representantes.
"As eleições revelaram uma realidade distinta das práticas do passado. O poder popular não precisa mais de intermediação", afirmou Bolsonaro, cuja campanha teve nas redes sociais a principal ferramenta de difusão das ideias do então candidato, eleito com quase 58 milhões de votos.
Mesmo depois a vitória, Bolsonaro continua privilegiando a comunicação direta com a população. O anúncio oficial da maioria dos ministros que irão compor o próximo governo foi feito pelo presidente eleito em suas páginas nas redes sociais. Bolsonaro também mantém uma relação conflituosa com a imprensa.
A maior parte do discurso - que durou dez minutos - teve um tom conciliador. O presidente eleito pediu a confiança dos que não o apoiaram nas eleições e disse que pretende governar para todos os 200 milhões de brasileiros, "sem distinção de origem social, raça, sexo, cor, idade ou religião".
"Aos que não me apoiaram, peço sua confiança para construirmos juntos um futuro melhor para nosso país. Com humildade e tendo fé em Deus para iluminar minhas decisões, me dedicarei dia e noite ao objetivo que nos une: a construção de um país mais justo e seguro. Isso é o nosso norte", afirmou o presidente.
Bolsonaro também mudou o discurso, repetido durante toda a campanha, de que o sistema eletrônico de votação não era confiável. "O povo escolheu seus representantes em eleições livres e justas. Somos uma das maiores democracias do mundo. Cerca de 120 milhões de brasileiros compareceram às urnas de forma pacífica e ordeira", afirmou ele.
Bolsonaro também afirmou que, em um momento de "profundas incertezas" em vários países, o Brasil deveria se orgulhar de ser um "exemplo de transformação pelo voto popular".
A partir do ano que vem, disse o presidente eleito, seu governo será pautado "pela defesa da família, pelos interesses do Brasil e pela soberania nacional". "O desejo de mudança foi expresso nas eleições. Os brasileiros precisam de um governo que garanta condições adequadas para exercer seu potencial com liberdade."
A mudança, de acordo com Bolsonaro, acontecerá por meio de uma forte "ruptura com práticas que historicamente retardaram o progresso do país", como "corrupção, violência, mentiras, manipulação ideológica, submissão a interesses alheios e mediocridade em detrimento do nosso desenvolvimento". Ele garantiu prioridade a uma pauta de reivindicações que inclui, principalmente, a segurança pública e a igualdade de oportunidades, "com respeito ao mérito e ao esforço individual".
"Ainda não conseguimos oferecer à população o que lhe cabe. Temos o dever de transformar esses anseios em realidade e oferecer um Estado eficiente, que faça valer os impostos pagos pelo contribuinte", afirmou. "Tenho plena consciência dos desafios e, sem subestimá-los, trabalharei com afinco para que, daqui a quatro anos, possamos olhar para trás com orgulho", disse Bolsonaro.
Ao chegar para a cerimônia, o presidente eleito bateu continência e foi bastante aplaudido. Segundo o TSE, cerca de 500 pessoas compareceram ao evento - eram esperadas 700. Bolsonaro agradeceu "a Deus por estar vivo" e disse querer "resgatar o orgulho das cores da bandeira e dos versos do hino brasileiro".
O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, por pouco não faltou ao evento: dirigiu-se minutos antes por engano para o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde fica o gabinete de transição. Ao ser questionado por jornalistas se não iria na solenidade, deu meia volta e entrou no carro novamente. Pouco depois, teve que retornar porque havia esquecido o convite. O futuro ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, aproveitou para fazer um anúncio: o de que o publicitário Floriano Amorim, um assessor do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), será o chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência.
Lido pela presidente da Corte, ministra Rosa Weber, o diploma entregue a Bolsonaro e a seu vice, general Hamilton Mourão diz que a Justiça Eleitoral testemunha a "vontade do povo brasileiro expressa nas urnas" em 28 de outubro. No segundo turno da eleição, a chapa derrotou o candidato do PT, Fernando Haddad. O documento os habilita para tomar posse, em 1º de janeiro. (Colaborou Marcelo Ribeiro)
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