- Folha de S. Paulo
A vergonha de ver o presidente Bolsonaro enaltecendo ditaduras
O núcleo duro bolsonarista --12% da população que batem palma para tudo o que o chefe mandar-- deve ter ido ao delírio, mesmo que nesse grupo muitos se considerem cristãos. A maioria dos brasileiros, contudo, mais uma vez sentiu vergonha de ver um presidente da República enaltecendo a tortura e o assassinato.
Bolsonaro atacou a memória do pai da alta-comissária da ONU, Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile. O brigadeiro Bachelet foi preso, torturado e morto pelo regime de Augusto Pinochet --um tirano e, hoje sabemos, um assaltante de cofres públicos. A grosseria e a desumanidade não espantam, vindas de quem já elogiou o torturador Brilhante Ustra e aproveitou o Sete de Setembro para dizer que a ditadura militar no Brasil merece nota 10.
Em entrevista à Folha, o presidente usou uma palavra ligada aos usos e costumes indígenas para fazer uma ameaça --mais uma-- à democracia: "Se eu levantar a borduna, todo mundo vai atrás de mim e eu não fiz isso ainda". Todo mundo quem, cara-pálida?
Na verdade, a bordoada já está comendo solta --e, como sempre, nas costas dos mais fracos. Um jovem negro de 17 anos que furtara um chocolate foi torturado por seguranças do supermercado Ricoy, em São Paulo. Um vídeo mostra o adolescente, nu, com mordaças e contorcendo-se de dor, sendo chicoteado e ameaçado de morte. Provavelmente não se trata de um caso isolado, e sim de prática recorrente.
Famosa observação do folclore político (atribuída a Pedro Aleixo, vice-presidente do general Costa e Silva à época do AI-5) ensina que o problema não está só nos desmandos do governo, mas sobretudo na influência que eles podem exercer na cabeça do guarda da esquina --figura que nos tempos atuais evoluiu para o torturador da esquina.
Previsão do tempo para este sábado (7) no Rio: céu nublado. Ideal para vestir preto.
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