- Folha de S. Paulo
A cacofonia do governo Bolsonaro cristaliza a percepção de que o Brasil vive uma algazarra institucional
A cacofonia produzida pelo governo Bolsonaro com falas contraditórias e/ou insultuosas sobre alvos e temas diversos cristaliza a percepção, interna e externa, de que o Brasil vive uma algazarra institucional. Um ambiente contaminado, que repele investimentos essenciais para o país transpor o PIB anêmico.
O presidente ataca seus auxiliares por esporte. Mesmo gozando de mais prestígio entre a população que o próprio mandatário, Paulo Guedes (Economia) levou suas bordoadas. Segundo pesquisa Datafolha, a atuação do ministro é tida como ótima ou boa para 38% das pessoas que o conhecem. Dos seus olímpicos 29%, o mito não se contém e um dia acorda chamando o economista de chucro na política.
Também não facilita a vida de Guedes ao criar ruído desnecessário sobre a regra do teto de gastos em meio a um nó fiscal sem precedentes. Na quarta-feira (4), defendeu a revisão do parâmetro que trava o crescimento das despesas públicas para, no dia seguinte, voltar atrás e reforçar a necessidade do mecanismo. O presidente não esconde sua ignorância em assuntos econômicos e já havia prometido não se meter nessa seara. Segue desenfreado.
Em sua incontinência, a cada hora revê sua opinião sobre a nova CPMF, prevista na reforma tributária gestada pelo Ministério da Economia. Na última versão, disse concordar com o tributo desde que haja alguma compensação ao contribuinte. Sem isso, o capitão reformado promete "porrada" para o ministro.
Mais uma afronta de Bolsonaro, que, assim como as bizarras ernestices, damarices ou weintraubices, é inaceitável até mesmo no anedotário político brasiliense.
Causa espanto maior notar que Guedes ora se aproxima do chucro que o presidente lhe imputa. Ao queixar-se que proposições relevantes perdem espaço no debate público, ele plagiou Bolsonaro e ofendeu a primeira-dama da França. Tentou desculpar-se, afirmando ter sido brincadeira.
Quem ainda está para brincadeira?
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