O nacionalismo e a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China sinalizam nos tempos na geopolítica
Trump coloca em xeque princípios da ordem econômica liberal e globalista, que se consolidaram nas últimas três décadas
Por Carlos Rydlewski | Eu &Fim de Semana | Valor Econômico
A crise da desglobalização
SÃO PAULO - O embaixador Sergio Amaral, que serviu em Washington, Londres e Paris, tem uma leitura peculiar do momento que o mundo atravessa. Diz acreditar que podemos estar diante do início de uma revolução, mas ainda não nos demos conta. Afinal, o planeta passa por tantas e tão simultâneas guinadas que a síntese dessas mudanças nos escapa. Mas qual é a base dessa suspeita? Trata-se de tudo que está por trás da disputa comercial entre EUA e China, cuja recente escalada de retaliações ameaça comprometer o crescimento global - e, no limite, lançar o mundo em uma recessão. Como observou o economista Nouriel Roubini, em um artigo publicado no "Business Insider Italia", ela representa apenas uma pequena escaramuça de uma guerra muito mais ampla pelo domínio global. Foi Roubini quem previu a crise do mercado imobiliário americano, em 2007.
Também não faltam analistas que veem no confronto sinais do nascimento de uma nova Guerra Fria, à semelhança da que opôs americanos e soviéticos no século passado. De acordo com o historiador norueguês Odd Arne Westad, professor da Universidade Yale, os chineses entram nesse teatro de batalhas em condições bem diferentes. O poder econômico da China em relação aos EUA, observa Westad, excede o poder relativo da União Soviética em um fator de dois ou três. E isso pode fazer toda a diferença.
A questão, contudo, não se resume à reedição de uma peleja, ainda que histórica. É mais ampla. Cresce entre especialistas o consenso de que, ao confrontar os chineses, o presidente americano Donald Trump está colocando em xeque os princípios da ordem econômica liberal e globalista, que se consolidaram nas últimas três décadas em todo o planeta. "Eles estavam baseados na hipótese da liberdade de comércio e pressupõem a formação de cadeias de produção e distribuição interligadas, nas quais a localização geográfica de insumos, consumidores e fornecedores beira a irrelevância", diz Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco.
Em oposição a isso, o governo da maior economia do mundo, e durante décadas o maior beneficiário do sistema multilateral, está engatando uma marcha à ré em pleno curso e impondo ao mundo uma lógica nacionalista e protecionista. "Não acho que vamos voltar às economias fechadas e políticas autárquicas dos anos 30 do século passado", acrescenta Mesquita. "Mas essa reviravolta e a mera incerteza de como as muitas empresas terão acesso a clientes e fornecedores a partir de agora é muito prejudicial ao ambiente de negócios."
Na prática, o governo americano quer promover o "decoupling" (dissociação), ou ainda, uma espécie de "desglobalização", entre os destinos e as economias chinesa e americana. Hoje elas estão profundamente interligadas. É por isso que, para Roubini, é possível imaginar em um futuro não muito distante a possibilidade de criação de dois sistemas globais, distintos e antagônicos, polarizados de um lado pelos EUA e do outro pela China. Seguiriam moldes similares dos blocos russo e americano do século XX. Hoje, mais de 50 empresas globais consideram a possibilidade - ou já anunciaram planos - de transferir a produção para fora da China, segundo reportagem do "Nikkei Asian Review". Incluem nomes como Apple, Nintendo, Sharp, HP e Dell. De pronto, o objetivo de algumas dessas companhias é evitar as penalidades das tarifas de importação impostas pelo governo americano na guerra comercial. Mas, em vez de mover suas operações para os EUA, muitas delas pretendem reconstruir suas cadeias de fornecimento na Ásia, notadamente no Vietnã.
A primeira camada da disputa entre EUA e China dá-se no campo comercial. Arrasta-se desde o início do ano passado, mas a artilharia pesada começou a ser detonada de forma intensa - e sequencial - no início de agosto. No 1º dia do mês, Trump impôs novas tarifas às mercadorias chinesas (10% sobre um total de US$ 300 bilhões). A China respondeu ao ataque cambial desvalorizando sua moeda, o yuan, levando-a a patamares só praticados em 2008, na crise global.
Em meio a esse tiroteio, as bolsas desabaram e houve inversão da curva de juros do Tesouro americano. Nesse caso, as taxas de longo prazo (de dez anos) ficam menores do que as de curto prazo (dois anos). Esse fenômeno é considerado um presságio de recessão dentro de um período de 18 a 24 meses. Não ocorria desde 2007. "O mercado está apostando que, em algum momento, o banco central americano, o Fed, vai baixar juros para conter o desaquecimento da economia mais adiante", diz o economista Edmar Bacha, um dos pais do Real. "É por isso que os juros de longo prazo ficam tão baixos."
Quem acompanha as declarações do presidente americano pode imaginar que parte dessa peleja não passa de gestos discricionários do líder americano. Essa ideia é reforçada, por exemplo, nas páginas inicias de "Medo - Trump na Casa Branca" (Todavia), livro de Bob Woodward, o decano do jornalismo americano. No livro, o líder da maior nação do planeta, o homem que detém o poder do juízo final nuclear na ponta dos dedos, é ludibriado como se fosse criança pelo ex-CEO de um banco e por um advogado de Harvard.
O banqueiro era Gary Cohn, ex-presidente do Goldman Sachs e, à época, principal assessor econômico da Casa Branca. O advogado era Rob Porter, secretário de gabinete do presidente. A dupla Cohn-Porter esconde a todo o custo documentos por meio dos quais Trump pretendia encerrar um tratado de livre-comércio com a Coreia do Sul, o Korus. O acordo era de grande valor estratégico para os americanos. Segundo Woodward, vencedor de dois prêmios Pulitzer (um deles pela cobertura do Watergate, que resultou na renúncia do ex-presidente Richard Nixon), Cohn chegou a entrar no Salão Oval, o centro de decisões do poder americano, e surrupiar o rascunho de um documento desse tipo que estava sobre a mesa de Trump.
Dessa vez, o lado polêmico do presidente não explica sua disposição para o combate com a China. Na verdade, faz parte das promessas de campanha. Desde 2017, Trump deixou claro que faria do nacionalismo econômico uma peça-chave da sua plataforma político-econômica. Sob sua batuta, os EUA saíram do Acordo Climático de Paris, do acordo nuclear com o Irã, do antigo Nafta (transformando-o em USMCA), da Parceria Trans-Pacífico (TPP, na sigla em inglês). O país congelou ainda a reaproximação com Cuba desenhada pelo então presidente Barack Obama, esvaziou órgãos da OMC e criticou sem tréguas a ONU e a Otan. Na diplomacia, se indispôs com aliados tradicionais como o Canadá e a Alemanha, mas, em contrapartida, se aproximou da Coreia do Norte de Kim Jong-um.
No caso da guerra comercial com a China, Trump também não segue somente um plano de governo, esboçado anos atrás. "A academia e os meios políticos e militares vêm promovendo ao longo da última década uma revisão da doutrina de defesa americana, particularmente em relação aos chineses", diz Sergio Amaral. Em outubro de 2011, Hillary Clinton, então secretária de Estado do governo Obama, publicou um artigo na revista "Foreign Policy", chamado "America's Pacific Century", que foi considerado um dos primeiros marcos desse processo. No texto, argumentava que o futuro da política americana não seria mais decidido no Afeganistão ou no Iraque, como pretendia a gestão anterior, encabeçada por George W. Bush. Por isso, era necessário promover um "pivô para a Ásia".
A ideia era que a China fosse conquistada por meio da sua integração aos sistemas de comércio. Para isso, eram cruciais iniciativas como o acordo TPP, rompido posteriormente por Trump. "Imaginava-se que a abertura econômica, por si, levaria a um enfraquecimento do regime chinês e a uma distensão política. Caso contrário, o país asiático entraria em colapso", afirma Amaral. "Mas não isso o que aconteceu. Mesmo sem ser uma democracia, o país se desenvolveu e não houve crise. Essa percepção de que a estratégia não havia dado certo coincide com a chegada de Trump ao poder." Por isso, no início de 2018, a situação mudou. À época, foi divulgado um sumário do documento "National Defense Strategy", feito pelo Departamento de Defesa dos EUA, no qual a China já era definida, com especial destaque, como "um competidor estratégico" dos EUA, que usava uma "economia predatória para intimidar seus vizinhos". Como se vê, essa concepção floresceu.
É por isso que o pano de fundo da disputa entre americanos e chineses é geopolítico. Na realidade, a China é o único país que de fato pode confrontar a hegemonia global dos EUA. O presidente chinês Xi Jinping deixou isso claro em algumas ocasiões, indo contra um preceito de Deng Xiaoping, o artífice da abertura econômica do país asiático. Deng dizia que era melhor "esconder suas capacidades e aguardar o seu momento" para mostrar as garras. Xi não fez isso. Em 2013, lançou a nova Rota da Seda, programa que prevê investimentos de US$ 1 trilhão em infraestrutura na Ásia, na Europa, no Oriente Médio e na África.
Dois anos depois, em 2015, os chineses apresentaram ao mundo o Made in China 2025, cujo objetivo é tirar o país da condição de galpão industrial para alçá-lo a potência tecnológica nos próximos seis anos. O projeto previa linhas de financiamento de um total de 300 bilhões de yuans, em valores da época do lançamento (o equivalente a US$ 43,9 bilhões), em setores como inteligência artificial, biotecnologia, biofármacos, robótica, novos materiais, produtos médicos avançados, além de investimentos em áreas como aeroespacial, naval e automotiva.
É nesse cenário de disputa pela tecnologia que a Huawei entrou na linha de tiro de Trump. A empresa foi colocada na lista de companhias para as quais as firmas americanas não podem vender quaisquer produtos. Essa é uma medida polêmica que pode trazer consequências negativas para muitos fabricantes de semicondutores dos EUA, incluindo Micron Technology, Qualcomm, Broadcom e Texas Instruments. Essas marcas têm na empresa chinesa uma de suas principais clientes. A Huawei lidera o desenvolvimento no mundo da tecnologia de 5G, que promete promover uma explosão de conectividade no planeta, viabilizando sistemas como a internet das coisas (IoT, na sigla em inglês), além de casas e cidades inteligentes.
Também não é por acaso que estudantes e cientistas da China não são mais tão bem-vindos nos EUA. Recentemente, o governo chinês advertiu seus estudantes e acadêmicos sobre os riscos de atuar entre americanos frente ao aumento de pedidos de visto rejeitados e os cortes na duração das autorizações de permanência. Cerca de 360 mil chineses frequentam cursos em universidades americanas. Eles geram uma renda de US$ 14 bilhões, mais do que a quantia obtida pela venda da soja ao gigante asiático, informou a consultoria Capital Economics.
Até aqui, o resultado líquido da guerra comercial entre EUA e China tem sido uma expectativa crescente de turbulências no mercado. A agravante é que esse bombardeio ocorre em um momento delicado para a economia global. As previsões das taxas de crescimento passam por revisão constante em todo o planeta. E apontam para baixo. Vale especialmente para as grandes potências mundiais. Projeções do Itaú Unibanco, por exemplo, indicam que o PIB global cresceu 3,8% em 2018. Em 2020, ficará em 3%. Nos EUA, no mesmo período, o produto vai encolher de 2,9% para 1,5%. Na zona do euro, os números vão de 1,8% para 1% e, no Japão, minguam de 0,7% para 0,4%. "A fotografia ainda mostra um avanço da economia mundial no ano que vem", destaca Mario Mesquita, o economista-chefe do banco. "Mas o filme indica uma trajetória de desaceleração e riscos são crescentes."
As principais economias do planeta, aliás, já vivem em uma modorra de crescimento há uma década. "O processo de desaceleração antecede a guerra comercial", diz o economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central e sócio da consultoria A.C. Pastore. "Esse é um problema para o qual o economista Larry Summers, ex-secretário do Tesouro americano, chamou a atenção há cinco anos." Summers o definiu como "estagnação secular", resgatando um termo empregado pelo também economista Alvin Hansen, em 1938. O conflito entre EUA e China, portanto, só piora um quadro de apatia que se arrasta há anos.
Além dessa letargia, as principais economias do planeta têm registrado níveis de juros persistentemente baixos nos últimos dez anos, sendo que alguns deles chegaram a zero - ou abaixo desse ponto. Taxas nesse patamar reduzem a margem de manobra dos bancos centrais para reagir a um eventual processo de perda de dinamismo dos mercados. Não conseguem estimular a economia por meio da redução de juros (via política monetária, portanto). O fato é que uma economia funciona bem quando as famílias consomem o que ganham e as empresas reinvestem o que lucram. Se essa engrenagem não gira, as coisas complicam.
Países como Japão, Suíça, Suécia e Dinamarca têm taxas de juros nominais negativas. No Reino Unido, é positiva, mas abaixo da inflação, o que também a deixa no vermelho. Esse é um fenômeno a ser compreendido. Provisórias, as explicações apontam para vários lados, sendo que muitas dessas direções não são excludentes. Elas incluem fatores como o envelhecimento da população, a partir do qual as pessoas passam a poupar mais em vez de consumir. Com poupança elevada, os juros não precisam ser tão altos.
Tal condição de juros minguantes é especialmente grave na zona do euro. É por isso que o Banco Central Europeu (BCE) está sendo pressionado para apresentar incentivos econômicos na próxima reunião da entidade, marcada para 12 de outubro. "Se a coisa apertar, é provável que o BCE lance um novo pacote de expansão quantitativa, aumente o balanço e comece a comprar ativos", diz Mesquita. No restante do mundo, os BCs estão revisando os juros para baixo de maneira generalizada. Em julho, o Fed fez o mesmo. Depois de dez anos, cortou a taxa em 0,25 pontos percentuais, descendo-a para a faixa entre 2% e 2,25%. Trump não gostou. Queria mais. Trump esbravejou recentemente ao reclamar de que o problema dos EUA não é a China, mas o Fed e seu presidente, Jerome Powell, que definiu como "sem noção".
Não faltam ao mundo outras fontes de instabilidade, ainda que representem marolas diante do choque entre EUA e China. Um desses focos é o Reino Unido e os problemas com o Brexit. "Essa medida terá mais consequências negativas para os britânicos do que para a UE, que não faz nenhuma força para evitar o Brexit", diz Carlos Eduardo de Carvalho, professor do Departamento de Economia da PUC-SP. "Mas não deixa de ser mais um problema que vai se somando aos outros."
Embora os analistas afirmem que a saída do Reino Unido da UE esteja precificada, ou seja, suas perdas já foram estimadas e até absorvidas pelas empresas, ainda provoca seus solavancos. No início de agosto, por exemplo, o investimento do setor automotivo na região registrou queda de mais de 70% no primeiro semestre. A economia britânica, a quinta maior do mundo, caiu a uma taxa anualizada 0,8% no terceiro trimestre. Foi a primeira contração trimestral desde 2012.
Na Ásia, há grandes tensões. Como observou Gideon Rachman, articulista de política do "Financial Times", os últimos meses vêm sendo marcados por incidentes diplomáticos e de segurança. No fim de julho, as forças aéreas chinesa e russa realizaram sua primeira patrulha aérea conjunta na região, levando aviões de combate da Coreia do Sul a disparar tiros de advertência. As greves em Hong Kong estão crescendo. Autoridades chinesas já discutem uma intervenção militar. Isoladamente, esses e outros eventos mostram problemas pontuais, sem ligação entre si. Mas, coletivamente, observou Rachman, são sintomas de uma doença mais ampla. Eles apontam para uma ordem de segurança regional em esfacelamento.
No mundo, muitas derrapadas estão sendo atribuídas à guerra comercial entre EUA e China. Elas incluem a retração de 0,1% do PIB da Alemanha, cuja economia está interligada à chinesa, no segundo trimestre deste ano em comparação com igual período do ano passado. Os chineses também registraram o pior crescimento da produção industrial em 17 anos. A taxa de desemprego urbano aumentou em julho. De acordo com o Centraal Planbureau (CPB) - Instituto de Análise de Política Econômica da Holanda -, o comércio internacional nos quatro primeiros meses de 2019 cresceu apenas 0,4% em volume. Isso representa uma forte desaceleração se comparada às taxas de crescimento elevadas de meados do ano passado - 4,1%, em média, nos primeiros dez meses do ano.
Um aprofundamento da disputa pode ainda agravar problemas iminentes na China e nos EUA. Paulo Mansur Levy, responsável pela Carta de Conjuntura sobre economia mundial do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), observa que o nível de endividamento dos chineses torna arriscado o país repetir a estratégia de recuperação seguida em 2008, após a crise financeira global, e mais recentemente, entre 2017 e 2018. Nesses períodos, as autoridades locais recorreram a uma forte expansão do crédito para reanimar o mercado. "Nos EUA, o estímulo gerado pela política de redução de impostos no governo Trump, promovida em janeiro do ano passado, também parece ter produzido o impacto esperado", diz Levy. "Muitos argumentam que a desaceleração em curso reflete exatamente o esgotamento dos seus efeitos."
Oimpacto da guerra comercial no Brasil, por sua vez, é incerto. Tudo vai depender de se haverá ou não acordo entre as duas potências globais - e, se houver, de que tipo será. Em um primeiro momento, o país beneficiou-se com a exportação de um maior volume de soja. Isso porque os chineses deixaram de comprar o produto dos EUA e aumentaram a cota nacional. Mas tal avanço pode ser revertido caso as duas potências concluam uma negociação. "Além do mais, qualquer ganho nesse momento será pontual", afirma Lia Valls Pereira, pesquisadora da área de economia aplicada do Ibre/FGV. "Em um contexto de queda do comércio mundial e desaceleração das economias, dificilmente alguém obterá uma vantagem duradoura. Por isso, o mais indicado é que o Brasil não tome partido na disputa. Tanto a China como os EUA são grandes parceiros comerciais."
Hoje, o futuro da contenda entre EUA e China é imprevisível. Em grande parte, dependerá das eleições americanas, que ocorrem em novembro de 2020. O curso das ações pode mudar se os ataques de Trump fizerem baixas entre os americanos e sua economia. As previsões não têm sido pautadas pelo otimismo. Artigo recente publicado na revista "Foreign Affairs", por Chade Bown, do Peterson Institute for International Economics, e Douglas Irwin, professor de economia do Dartmouth College, expõe a delicadeza da situação. Os autores observam que, inicialmente, Trump parecia querer usar as tarifas apenas para reduzir o déficit comercial com a China, calculado em US$ 419 bilhões em 2018. Mas se essa fosse a preocupação, os chineses poderiam ser pressionados a fazer grandes gastos, comprando mais soja dos produtores americanos, por exemplo. Se fosse por um problema de roubo de propriedade intelectual, permanente alegação dos americanos, o país asiático poderia ser persuadido a mudar leis e se comprometer com as normas internacionais.
Mas está ficando claro, acrescentam Bown e Irwin, que o governo americano "não quer um acordo permanente". Mesmo que Trump e Xi Jinping cheguem à uma paz superficial, é improvável que vá além de uma trégua temporária. O objetivo do governo americano parece ser nada menos que a transformação imediata e completa da economia chinesa. Para satisfazer os EUA, a China teria de acabar com as transferências forçadas de tecnologia, restringir os subsídios às empresas estatais, abandonar as políticas industriais destinadas ao domínio tecnológico global, parar de assediar empresas estrangeiras que operam no país e abrir mercados que o governo local fechou para dar controle a firmas domésticas. Em outras palavras, os EUA querem que os chineses transformem seu sistema econômico dominado pelo Estado em um sistema baseado no mercado. Isso não vai ser possível. E como tem demonstrado Xi Jinping, a China não parece disposta a retroceder em suas políticas expansionistas. É por isso que, hoje, qualquer bandeira branca hasteada pode ser interpretada como um mero aceno provisório.
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