Sem
comando e sem rumo, Brasília virou lamentável circo de ‘Marias Fofocas’ e
‘Nhonhos’
O
mundo está em polvorosa, os mercados estressados, os investidores arredios, as
pessoas perdidas, mas Brasília vive em outro planeta, andando em círculos,
movida por intrigas e tititi. Sem comando, cada um fala e age como bem entende,
todos batem cabeça e tudo parou. Num presidencialismo forte como o brasileiro,
significa balbúrdia e paralisia não só no Executivo, mas também no Legislativo.
Sem
rumo e apoio, o ministro Paulo Guedes perdeu as estribeiras e, de uma tacada, atingiu a Febraban,
o governo de São Paulo, o Congresso e o ministro do Desenvolvimento.
Clara demonstração de desespero, com Bolsas e dólar sacolejando e nenhuma
resposta do governo (além da intervenção do BC no câmbio, o bê-á-bá). E o
desespero só aumenta, depois de o presidente Jair
Bolsonaro, em campanha em Marte, ops!, em Imperatriz (MA),
prestar solidariedade ao... ministro do Desenvolvimento.
Nesse enredo e na falta de eleições municipais em Brasília, Ricardo Salles é forte candidato a novo Weintraub, distribuindo bordoadas a torto e a direito, com aval de Bolsonaro. O ministro convive com a maior queimada do Pantanal na história, um pedido de afastamento do cargo na Justiça e uma derrota no STF: a ministra Rosa Weber suspendeu ontem a “boiada” do Conselho do Meio Ambiente contra restingas e manguezais. Mas ele tem costas quentes.
Já
chamou o general Luiz Eduardo Ramos de “Maria Fofoca” e, com a
confusão criada, pediu modestas desculpas “pelo exagero”. Ao presidente da
Câmara, Rodrigo Maia, que o acusou de “querer destruir o governo”, destinou um irônico “Nhonho” do Chaves. Depois, alegou que tinham invadido
seu Twitter e, por fim, apagou a conta na rede.
O
próprio Maia, que também anda com os nervos à flor da pele depois da covid e
prestes a deixar a presidência da Câmara, vive aos tapas e beijos com Paulo
Guedes e ontem bateu de frente com Roberto Campos Neto, do BC. Pelo Twitter
(ora, se não...), o acusou de ter vazado uma conversa entre eles, o que “não está à altura de um presidente de Banco Central de um país sério”.
Como Salles, também votou atrás, mas a cicatriz fica.
Na
“conversa particular” entre os dois, Maia e Campos Neto manifestaram
preocupação com a agitação no mercado e a falta de reação de Brasília, quando
Maia tascou: a culpa é da base do governo – ou seja, do Centrão –, que não se
entende sobre orçamento, PEC emergencial, novo Bolsa Família, lei cambial...
Assim,
todos se acusam, todos têm razão e ninguém tem razão. O governo está
catatônico, com Bolsonaro em sua realidade paralela e Guedes abandonado,
atirando a ermo. O Congresso está imobilizado por disputas de poder na Câmara e
a obsessão de Davi Alcolumbre em se reeleger no Senado. E, assim, o ano
vai chegando ao fim. Reformas? Privatizações? O pós-ajuda emergencial? Que
nada!
Nesse
vazio de homens e ideias, Bolsonaro desliza entre um recuo e outro. O último,
até a conclusão desta edição, foi sobre remodelação do SUS, o que poderia até fazer sentido, mas foi
lançada na hora errada, pelas pessoas erradas. Um decreto sobre o SUS sem
assinatura do ministro da Saúde?! Ok, o general Eduardo Pazuello não manda
nada, mas mantenhamos ao menos as aparências, senhores! E como lançar a ideia
sem negociar com Congresso, entidades de saúde e sociedade, quando a estrela na
pandemia é justamente o SUS, o nosso SUS?
Assim,
o coronavírus ressurge na Europa e continua contaminando e tirando a vida de
pessoas e empresas no Brasil, com um rastro de dor, tristeza, sequelas, fosso
fiscal, desemprego e crise social. E quem deveria se unir para combatê-lo e
recuperar a economia está atolado nas picuinhas dos muitos “Nhonhos” dignos do
seriado Chaves. É para rir ou para chorar
*Comentarista da Rádio Eldorado, da Rádio Jornal e do Telejornal Globonews em Pauta
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