Parte
da economia volta ao azul, mas está ameaçada por fofoca e inépcia gerencial
Há
um Brasil que se recupera da calamidade econômica, no comércio e na construção
civil, movido a auxílios emergenciais e juros baixos. Há estados em que o nível
de emprego formal já é maior ou pelo menos igual ao do final do ano passado,
caso de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Maranhão, Paraná e
Santa Catarina tocados também pelos bons resultados do agronegócio.
Mas
essa recuperação relevante está longe de segura. Um dos motivos é que há um
outro país, aquele que se dedica à molecagem em redes sociais, caso de
ministros de Jair Bolsonaro ocupados de criar crises com fofoca
juvenil idiótica. O capitão, por sua vez, trabalha para sabotar até uma
hipótese de melhoria nacional, a existência de uma vacina contra a Covid.
Um
ministro principal, Paulo Guedes, entre outras incapacidades gerenciais, não
consegue dizer se vai propor uma nova CPMF ou se o imposto está morto, isso
durante uma algaravia em que chegou ao ponto desvairado de acusar bancos
de financiar inimigos do teto de gastos, provocando nova crise
intestina no governo. Sim, os bancos seriam inimigos do arrocho fiscal.
Ministros
e os novos amigos de Bolsonaro, as cabeças do centrão, se ocupam de artimanhas
para sentar nas cadeiras vazias ou novas da reforma ministerial que virá, se
especula. Misturada nesse rolo está a disputa pelo
comando da Câmara no ano que vem.
O
país que se levanta da ruína deste ano de calamidade pode ser abatido por uma
piora das condições financeiras: o dólar nas
alturas e uma taxa de juros em alta no atacadão de dinheiro,
que pode solapar investimentos ou coisa pior. A tensão é grande e pode
explodir, com o recrudescimento
da epidemia pelo mundo ou com decisões amalucadas ou
incompetentes do que fazer com o Orçamento federal do ano que vem. Tais
decisões foram adiadas por Bolsonaro e pela elite política para depois das
eleições municipais, como se houvesse tempo para esperar até amanhã. Em parte,
dependem de arranjos políticos, que por sua vez esperam o resultado de
eleições, no Brasil e nos Estados Unidos.
Tais
demoras e a longa duração da epidemia atrasam ainda mais a recuperação do setor
de serviços, com faturamento 30% abaixo do que se via no ano passado. O Rio de
Janeiro padece especialmente dessa ruína, sem contar a desordem
política e administrativa local. É o estado mais atrasado na recuperação do
emprego formal, por exemplo.
A
confiança do consumidor e do comércio deu uma fraquejada em outubro, talvez um
primeiro alerta de que a redução dos auxílios emergenciais deve diminuir também
a velocidade da retomada. A ainda baixa circulação de pessoas em metrópoles como
São Paulo indica que persistem o medo da doença e o distanciamento social por
decisão voluntária de empresas, que há menos gente a andar pela cidade por
falta de trabalho ou por causa das escolas ainda quase fechadas.
É
fácil perceber que há tanto a fazer, no controle da epidemia e na apresentação
de um projeto racional de saída da lama econômica, para nem mencionar que não
se toca nem a rotina básica de governo. A cada dia, a uma fofoca se segue uma
ideia demente ou inepta, que cai na Justiça, no Congresso ou por pressão de
redes sociais.
É uma queixa ingênua, decerto. A desordem político-administrativa, fora o risco de golpeamento autoritário, era previsível e prevista desde 2018. A variação continua do desvario, nem tanto: boa parte do governo e do comando do país, em vários Poderes, agora se dedica a promover tumulto com mexerico e molecagem.
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