Decreto
que punha UBSs no programa de privatizações parece ter sido redigido por Didi
Mocó
Oba!
Paulo Guedes viveu nesta quinta-feira (29) mais um “patético momento”, com o
perdão de Cecília Meireles, em audiência pública no Congresso. Falou a verdade
ou só promoveu guerrilha interna ao afirmar que o
governo abriga um ministro financiado pela Febraban, a federação de
bancos? É claro que se referia a Rogério
Marinho.
Sendo
verdade, é grave, e o lobista tem de ser demitido. Sendo mentira, demita-se o
acusador. O chilique é apanágio de incompetentes. Temos um governo de
destrambelhados. A desorientação da gestão de Jair
Bolsonaro deixou o terreno do debate administrativo e virou
pastelão.
O
decreto que punha as
Unidades Básicas de Saúde no escopo do programa de concessões e
privatizações parece ter sido redigido por Didi Mocó Sonrisal Colesterol
Novalgino Mufumbo, em parceria com o Mussum de porre. Esqueceram de chamar Dedé
e Zacarias. Teriam alguma reserva de bom senso: “Melhor não!”.
O
texto era assinado por Bolsonaro e pelo próprio Guedes. O chefe não tem noção
do que fala e faz. A única coisa que lhe interessa é a rinha política. Para
tanto, é preciso manter a adesão de duas frentes: nas redes,
a da súcia de sempre; no Congresso, a dos clientes de Luiz Eduardo
Ramos, pagador de emendas.
Vai
dar errado, antevê o general Rêgo Barros, ex-porta-voz,
que adverte Bolsonaro: “Memento mori”. A tradução que circula por aí não é boa:
“Lembre-se de que é mortal”, o que seria um convite à humildade. “Memento” é um
imperativo no tempo futuro, que não sobreviveu nas línguas neolatinas. “Mori” é
verbo no infinitivo.
Deve
ser traduzido como predição e vaticínio: “Hás de te lembrar de que vais
morrer”. Ou seja: o castigo virá para aquele que se deixa adular por
“comentários babosos dos que o cercam ou pelas demonstrações alucinadas de
seguidores de ocasião”.
Nesse
ambiente nascem decretos que ninguém lê. Nem Guedes conhecia direito a
estrovenga. A audiência deixou claro: a sugestão partiu da área de PPI
(Programa de Parcerias de Investimento), dirigida pela secretária Martha
Seillier, “uma pessoa competente, séria, trabalhadora”, segundo o ministro.
Foi enfático
sobre Martha: “Não é uma das pessoas que eu trouxe de fora para
privatizar o sistema, para atacar o sistema de saúde brasileiro. Zero”.
Entendido. Privatizar bens públicos, segundo o ministro, corresponde a...
atacá-los. Nem o PCO seria
tão sucinto.
Nesta
quinta, apanhou a Febraban. Caso discorde dele, será a Febraqueba (Federação
Brasileira dos Querubins Barrocos) na quinta que vem.
Notem:
essa conversa sobre as UBSs brotou do nada. O resto do governo foi pego de
surpresa. É evidente que os valentes tentam se livrar de parte da carga da
Saúde —e aí está o problema de fundo. Mas é preciso fazê-lo com método.
Foi
tal o barulho que o texto teve de ser revogado. Ao se justificar, escreveu
Bolsonaro nas redes: “Temos atualmente mais de 4.000 Unidades Básicas de Saúde
(UBS) e 168 Unidades de Pronto Atendimento (UPA) inacabadas. Faltam recursos
financeiros para conclusão das obras, aquisição de equipamentos e contratação
de pessoal. O espírito do decreto 10.530, já revogado, visava o término dessas
obras, bem como permitir aos usuários buscar a rede privada com despesas pagas
pela União”.
É
mesmo? Se é assim, revogou por quê? Então mantenha o texto e compre a luta
política, ora bolas! Acontece que, para tanto, é preciso que exista um
diagnóstico de governo, o que, por sua vez, supõe a existência de um...
governo.
Guedes
aproveitou ainda a audiência pública para atacar o Governo de São Paulo, que já
teria recebido muito dinheiro. Também deixou claro que não se fala sobre novo
imposto. Não em período eleitoral ao menos. E se disse contrário à vacinação
obrigatória: “Eu sou um liberal, acredito que a vacina é uma decisão
voluntária de cada um. Se o sujeito preferir ficar trancado em casa seis anos,
não ter contato com ninguém e não tomar a vacina, o problema é dele”.
Opa!
Ninguém até agora havia pensado na possibilidade de confinar os recalcitrantes.
Ainda bem que existe o ministro para iluminar o debate.
Dedé para a Economia. ”Memento mori”, Guedes!
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