Homofobia
na veia
Guaraná Jesus está para os maranhenses assim como pizza está para os paulistas, Biscoito Globo para os cariocas quando dá praia, bolo de rolo para os pernambucanos, acarajé para os baianos todo santo dia e churrasco para os gaúchos nos fins de semana.
Mas
como Bolsonaro tem por hábito atacar seus desafetos, valeu-se do guaraná nas
poucas horas que passou, ontem, em território “inimigo” para ofender ao mesmo
tempo os maranhenses, os homossexuais e o governador Flávio Dino (PC do B).
Foi
sua primeira visita oficial ao Maranhão e ele fez questão de torná-la
inesquecível. Desembarcou em São Luís sem máscara e indiferente às medidas de
prevenção ao novo coronavírus. Inaugurou um trecho da rodovia BR-135.
E
antes de voar para Imperatriz, a segunda maior cidade do Estado, tomou um copo
do Guaraná Jesus e debochou da sua cor. Enquanto sua equipe fazia uma
transmissão ao vivo nas redes sociais, comentou com o dono de um bar que o
recepcionava:
–
Agora eu virei boiola. Igual maranhense, é isso? Guaraná cor-de-rosa do
Maranhão aí, quem toma esse guaraná aqui vira maranhense. Guaraná cor-de-rosa.
Fod…, fod…
Boiola,
segundo os dicionários, é homem homossexual, indivíduo fraco ou medroso.
Homofobia é uma série de atitudes e sentimentos negativos em relação a
pessoas homossexuais. O comentário reforça a acusação de que Bolsonaro é
homofóbico.
Não
foi a primeira vez que ele se revelou assim. Em 2011, quando perguntado se receberia
de bom grado o voto de um eleitor homossexual, respondeu:
–
O voto é muito bem-vindo, e tão votando num macho, eles não querem votar em
boiola, é que boiola não atende os sonhos deles, tão votando num macho.
Sobre
a orientação sexual dos filhos foi taxativo:
–
Eu não tenho qualquer informação que um filho meu tenha um comportamento
homossexual com quem quer que seja, até porque tudo o que esses bichas têm para
oferecer, as mulheres têm e é melhor.
Em
2013, declarou que preferia um “filho viciado a um filho gay”. Em 2014, que a
maioria dos gays foi influenciada por “amizade e consumo de drogas”. Em julho
último, repetiu que jamais iria a uma parada gay porque acredita em Deus e “nos
bons costumes”.
Bolsonaro
só deixou o Maranhão após afirmar que o Estado é o mais atrasado do país porque
seu governador é comunista. À noite, em sua live semanal no Facebook,
desculpou-se:
–
Estava conversando com um cara: ‘Pô, o guaraná é cor-de-rosa aqui’. Falei uns
troços lá, alguém pegou, divulgou, não sei o quê, como se eu tivesse ofendendo
aí quem quer que seja no Maranhão. Muito pelo contrário. […] Agora, a
maldade está aí.
Planeja-se
em São Luís uma manifestação em desagravo aos maranhenses e ao Guaraná Jesus.
Governo
volta a lavar roupa suja em plena luz do dia
Bonde
fora dos trilhos
Não
é à falta do que fazer que ministros de Bolsonaro entram em choque. É
porque o mau exemplo que vem de cima os contamina. Se você tem um chefe que
briga por tudo e por qualquer coisa, e depois dá o dito pelo não dito, por que
não copiá-lo?
Há
três dias, Bolsonaro recomendou aos seus ministros que não lavem roupa suja em
público. O ministro do Meio Ambiente havia chamado o general ministro da
Secretaria do Governo de Maria Fofoca. Uma humilhação para quem usa farda.
A
recomendação foi para o lixo menos de 72 horas depois. Embora sem citá-lo, o
ministro da Economia voltou a criticar seu colega do Desenvolvimento Regional,
e se não bastasse, atacou a Federação Brasileira de Bancos, um reduto do lobby,
segundo ele.
Paulo
Guedes fala muito e com frequência diz besteiras. Lembra alguém? O ministro
alvo dos seus vitupérios viajou ao Maranhão com Bolsonaro e foi publicamente
elogiado por ele. O ministro do Meio Ambiente preferiu viajar em outra direção.
Do
paraíso de Fernando de Noronha, mandou dizer que invadiram sua conta no Twitter
e que ele nada teve a ver com a mensagem ali postada sobre a má forma física de
Rodrigo Maia, presidente da Câmara. Maia, de fato, está acima do peso ideal.
Mas
isso uma pessoa educada não fala a respeito de outra. Salles é tudo, menos uma
pessoa educada. E, estimulado pelos filhos do presidente, bate em quem eles
querem bater. A conta de Salles no Twitter foi cancelada. Ignora-se se pelo
Twitter ou por ele.
Maia
não respondeu a Salles. Estava ocupado em rebater insinuações malévolas feitas
sobre ele pelo presidente do Banco Central, que as negou, e Maia deu-se por
satisfeito. O que não tem conserto é a relação de Bolsonaro com João Doria.
Outra vez por causa da vacina chinesa, Bolsonaro voltou a atacar o governador paulista que respondeu com gosto em cima da bucha. E assim segue o Bonde do Planalto, sem rumo certo, desgovernado e fora dos trilhos. Os próximos dois anos prometem.
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