Ainda
bem que elas não valem muito
Todas
as vezes em que se viu politicamente acuado, o presidente Jair Bolsonaro reagiu
—em geral com um chilique, como se viu no dia em que fez ameaças pouco veladas
ao STF.
Não
há motivos para crer que ele vá mudar esse padrão apenas porque está agora sob
a proteção do centrão. Pelo contrário, há elementos para temer que, nessa nova
condição, arroubos presidenciais se tornem potencialmente mais destrutivos.
O problema de fundo é que as perspectivas para Bolsonaro não são das mais animadoras. Ele mostrou notável resiliência nas pesquisas de popularidade, mas os números brutos escondem uma mudança importante. O presidente perdeu apoio entre os mais ricos e mais instruídos e ganhou entre as classes populares, muito provavelmente por causa do auxílio emergencial.
Só
que a ajuda em tese acabou. É difícil saber o que vai no coração do eleitor
brasileiro, mas, se toneladas de escritos em ciência política valem alguma
coisa, o mais provável é que o respaldo popular ao governo decline à medida que
o dinheiro encurte. O repique/segunda onda, que derruba os pequenos negócios
que iam se reerguendo, não ajuda.
Ao
ver a aprovação declinar, Bolsonaro, que agora conhece o caminho das pedras,
pode ficar tentado a abraçar soluções populistas. Ter o centrão como sócio
aumenta esse perigo. O risco aí é o fiscal. Os "faria-limers" que
ajudaram a pôr Bolsonaro no comando podem ser tolos, mas sabem defender seu
dinheiro. Se sentirem que o governo age irresponsavelmente, teremos dólar e
juro nas alturas e inflação.
Até
existem respostas racionais para o dilema. Faria todo o sentido, por exemplo,
substituir subsídios ineficientes, como o abono salarial e o seguro defeso, por
programas de maior retorno social, como uma ampliação do Bolsa Família. O
problema aí é que Bolsonaro já vetou explicitamente esse tipo de solução.
Ainda bem que a palavra presidencial não vale muito.
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