Sempre
associei a política ao xadrez. A verdadeira política deve ter a sutileza, a
astúcia e a inteligência do xadrez. Infelizmente, ela tem se assemelhado mais a
uma luta de UFC ou a uma partida de rúgbi.
Entramos
em 2021 com a política brasileira dividida entre quatro grandes campos: o
bolsonarista, o do “centrão”, o polo democrático e a esquerda.
O
bolsonarismo galvanizou nas últimas eleições presidenciais a rejeição à chamada
“velha política” tradicional. Cacifado pelo voto popular, abriu mão do
“presidencialismo de coalização” e tentou governar sem maioria parlamentar e
através de uma política de confrontação com o Congresso e o STF. Agora, tendo
jogado o lavajatismo ao mar, e preocupado com a instabilidade política
excessiva, o bolsonarismo tenta dar um freio de arrumação tecendo aliança
política com o que há de mais representativo da mesma “velha política” tão
condenada em 2018. O gambito da rainha de Bolsonaro seria sacrificar o discurso
renovador para derrotar a oposição democrática e de esquerda.
O “centrão” é formado por um conjunto de partidos que têm historicamente postura pragmática, patrimonialista e não ideológica. Funcionam como um pêndulo de governabilidade. Podem servir a governos díspares como os de Sarney, FHC, Lula, Dilma, Temer ou Bolsonaro, desde de que tenham acesso a verbas, cargos e espaços políticos. Aproveitam a fragilidade do governo Bolsonaro para recuperar espaços perdidos.
O
polo democrático formado pelo DEM, PSDB, MDB, Cidadania, entre outros, defende a
agenda econômica modernizante, mas não se alinha aos arroubos autoritários do
governo e defende radicalmente a democracia, suas instituições, o combate às
desigualdades e políticas alternativas nas relações exteriores, no meio
ambiente, na educação, segurança e saúde. Liderado por Rodrigo Maia, tem sido o
grande pilar da defesa da ordem constitucional e das reformas necessários. O
seu gambito da rainha é a abertura de diálogo com a esquerda, sacrificando
parte de sua base social, para manter a autonomia e o protagonismo do Congresso
e seu papel de freio e contrapeso às tentativas “iliberais” de retrocesso.
A
esquerda, em rota descendente desde 2015, reaparece no vácuo deixado pelo
governo. Tenta se reposicionar e ampliar seu campo de diálogo. O gambito da
rainha das esquerdas é sacrificar um pouco de sua identidade e da narrativa do
“golpe” de 2016 para reconstruir pontes e quem sabe angariar o apoio do centro
democrático num possível segundo turno de 2022.
Como
os enxadristas sabem o gambito pode ser aceito ou recusado e os cenários de
jogo são imprevisíveis. Que o desfecho do xadrez político, que terá seu próximo
lance nas eleições das Mesas da Câmara e do Senado, reafirme a vitória dos
valores da liberdade, da democracia e do desenvolvimento social.
*Marcus Pestana, ex-deputado federal (PSDB-MG)
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