Não
se lhe negue coerência
O desprezo pela vida alheia e o achincalhe à reputação dos seus adversários políticos marcaram o primeiro ato público do presidente Jair Bolsonaro à entrada de 2021.
Cercado
por bons nadadores, ele se meteu no mar de Praia Grande, em São Paulo, provocou
aglomerações e ouviu satisfeito o coro dos banhistas mandar o governador João
Doria tomar no cu.
Que
presidente da República do Brasil já fez algo semelhante? Não há registro.
Bolsonaro, o boca podre, não só fez como postou nas redes sociais o vídeo com o
insulto de baixo calão.
Sabe-se
da fixação dele nas partes baixas do corpo humano por onde são expelidos os
excrementos. E da sua perseguição ao governador de São Paulo a quem trata como
inimigo.
Na
véspera do Natal, Bolsonaro assim referiu-se a Doria: “Isso não é coisa de
homem. Fecha São Paulo e vai passear em Miami. É coisa de quem tem calcinha
apertada. Isso é um crime”.
Repetiu a dose em sua última live de 2020 no Facebook: “Tu não sabe o que é povo. Não sabe o que é sentir o cheiro do povo, nunca sabe o que é cheiro do povo. Eu sei”.
Seria
pedir demais ao rudimentar ex-capitão que só se destacou como atleta enquanto
serviu ao Exército que tivesse bons modos para não desonrar o cargo de
presidente do Brasil?
A
farda ele desonrou ao planejar atentados terroristas contra quartéis para
reivindicar melhores salários, e por isso foi afastado do Exército e proibido
de frequentar ambientes militares.
O
derradeiro ato oficial de 2020 assinado por Bolsonaro foi também de desdém pela
vida: vetou a blindagem que o Congresso tinha garantido aos gastos com
vacinação contra a Covid-19.
A
decisão foi publicada na calada da noite do dia 31 em edição extra do Diário
Oficial da União. A proteção para gastos com o Ministério da Defesa foi
mantida, naturalmente.
O
texto da Lei de Diretrizes Orçamentárias aprovado pelo Congresso impedia que em
2021 detyerminados gastos fossem bloqueados no caso de o governo ter queda de
arrecadação.
Ao
sancionar o texto, entre os itens que por obra e graça de Bolsonaro acabaram
perdendo a proteção, destacam-se:
+
saneamento;
+
prevenção, combate e controle do desmatamento, queimadas e incêndios
florestais;
+
educação infantil;
+
combate à pobreza;
+
enfrentamento da violência contra as mulheres;
+
e despesas com ações vinculadas à produção e disponibilização de vacinas contra
o coronavírus e a imunização da população brasileira.
O
governo alega que impedir o corte desses gastos contribui para a elevação da
rigidez do orçamento e para o não cumprimento das regras fiscais.
Ficaram
de fora da lista dos vetos dez gastos da área militar – entre eles, a compra de
blindados, de aviões de caça e o desenvolvimento de submarino nuclear que somam
R$ 5 bilhões.
Prioridades são prioridades. Nem tudo pode ser. O que define um governo e o seu presidente são as prioridades que ele estabelece. A favor de Bolsonaro, pode-se dizer que ele não engana ninguém.
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