O
ano que começou será conhecido como o do réveillon que não aconteceu com festas
oficiais nem multidões nas ruas, especialmente no Rio de Janeiro, que já se
tornou o ponto turístico internacional desse tipo de acontecimento. Mas o senso
de urgência no combate à COVID-19 que marcou a posse dos prefeitos não evitou
que festas clandestinas e demonstrações explícitas de irresponsabilidade
acontecessem.
No
Rio e no litoral paulista, praias lotadas e bares repletos evidenciaram que
muita gente ainda não despertou para a gravidade da situação em que nos
encontramos, especialmente diante da perspectiva sombria de não sabermos quando
teremos vacinação. Mais uma vez o próprio presidente Bolsonaro estimulou
comportamentos contrários às normas de segurança sanitária.
Em
férias na Praia Grande, litoral paulista, mais uma vez provocou uma aglomeração
de entusiastas que, ao gritos de “mito”, cercaram-no quando se aproximou da
praia nadando, vindo de um barco em que passeava.
Os
prefeitos das principais cidades do país e, mesmo aqueles, como Eduardo Paes,
do Rio, que não estão em oposição ao governo federal por absoluta
impossibilidade financeira, marcaram posição oposta à do presidente Jair
Bolsonaro no tratamento da pandemia.
Ao contrário do governo federal, que nunca colocou o combate à pandemia entre suas prioridades, os novos prefeitos, e outros, reeleitos, como o de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, que tomou posse virtualmente, colocaram suas cidades em alerta contra o novo coronavírus.
O
prefeito reeleito no primeiro turno com mais de 60% dos votos ganhou dimensão
nacional ao ser citado pelo presidente do PSD, Gilberto Kassab, como um nome a
ser discutido para candidato à presidência da República no ano que vem. O mais
provável, porém, é que Kalil venha a disputar o governo do seu estado, já que
está em franca oposição ao governador do Novo Eduardo Zema, aliado a Bolsonaro
na maneira de enfrentar a pandemia.
No
primeiro minuto do primeiro dia do ano e de mandato, o novo governo do Rio
anunciou, através de seu secretário da Fazenda, deputado Pedro Paulo, uma série
de medidas administrativas para cortar custos e investigar ações do governo
anterior de Marcelo Crivella. Sabendo que, além de medidas concretas, é preciso
também “deixar de lado o baixo astral”, como citou no discurso de posse na
letra do samba “Conselho”, de Adilson Bispo e Zé Roberto, o prefeito Eduardo
Paes também divulgou um vídeo logo pela manhã no alto do Cristo Redentor,
juntando símbolos do Rio como sinal de um novo tempo que se prenuncia, apesar
da “herança perversa”, como se referiu aos restos a pagar e às dívidas que
recebeu de Crivella.
A
abertura de 343 novos leitos para pacientes do coronavírus, e a criação de um
Centro de Operações de Emergências, com um comitê independente de especialistas
que assessorará a Prefeitura são algumas das medidas já anunciadas. O combate à
COVID-19 foi também destaque na posse do prefeito de São Paulo Bruno Covas, que
anunciou que a cidade “está pronta para vacinar em massa”, numa referência à
vacina do Instituto Butantan, com base na tecnologia chinesa da Sinovac, que
tem sido motivo de disputa entre o presidente Bolsonaro e o governador paulista
João Doria, de quem é aliado.
Covas
atacou o negacionismo de Bolsonaro, sem cita-lo, afirmando que é uma atitude
que está "com os dias contados". Se referindo à necessidade de banir
o "vírus do ódio", Covas advertiu que a atividade política "não
é para intolerantes nem lacradores", em mais uma referência indireta a Bolsonaro
e seus seguidores nas redes sociais. "As urnas deram o recado de moderação
muito claro", alertou.
Bolsonaro
tem tido renovadas demonstrações de que seu jeito leviano de levar a
presidência tem seus apoiadores, e não são apenas os radicais da extrema-direita.
Caberá à oposição, que é a maioria, a tarefa de encontrar candidatos que possam
levar a eleição presidencial ao segundo turno com chance de vencer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário