Se
há benefícios, não vejo como ser contra a compra de vacina por empresas
Sou
um entusiasta do SUS, em especial do Programa Nacional de Imunizações. Mas
tenho certa dificuldade em colocar-me contra a aritmética. Se a liberação da
compra de vacinas pela iniciativa privada trouxer para o Brasil doses que de
outra forma não chegariam e ainda diminuir o tamanho da fila pública, não vejo
como ser contra.
O
sujeito que se vacina contra
a Covid-19 produz dois benefícios, um para si mesmo, já que reduz
significativamente a chance de se contaminar e desenvolver um quadro grave da
moléstia, e outro coletivo, já que contribui, ainda que mais difusamente, para
reduzir a circulação do vírus e evitar a superlotação da rede hospitalar.
Isso cria uma situação interessante sob a perspectiva da teoria dos jogos. Estamos num jogo de soma positiva (no qual cada membro da sociedade ganha com a imunização do próximo), mas em que ainda há incentivo a passar na frente do outro (o benefício individual supera o coletivo).
A
resposta ótima para esse problema é uma campanha nacional maciça, em que a
ordem de prioridade seja definida por critérios racionais. Não temos isso no
Brasil. E não temos principalmente porque o governo federal não comprou vacinas
nas quantidades necessárias quando isso era possível. Agora ficou mais difícil
encontrar grandes lotes para entrega rápida.
Como
nada indica que a administração Bolsonaro se tornará eficiente da noite para o
dia e temos muita pressa, penso que a segunda melhor solução para nosso
problema é estimular estados, municípios, entidades sindicais, de classe e
empresas privadas a também adquirir vacinas, sem necessidade de fazer doações
escalonadas para o SUS, exigência que, na prática, diminui o incentivo a
procurá-las.
Obviamente, é preciso estabelecer uma regra de preferências na compra, para que não se deflagre um processo de concorrência predatória que eleve o preço dos imunizantes para todos.
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