Morticínio
abala tentativa do presidente de preservar força para reeleição
Quando
a pandemia deu as caras, Jair Bolsonaro apostou todas as fichas em seu projeto
de reeleição. O presidente sacrificou os esforços mais urgentes de contenção do
vírus e tentou fazer com que a economia continuasse girando à força. A
estratégia acentuou
a tragédia no país e, agora, ameaça seus próprios planos políticos.
Até
a virada do ano, Bolsonaro sustentou sua popularidade com base nesse discurso.
O comportamento conflituoso manteve sua base eleitoral coesa, enquanto o pagamento
do auxílio emergencial criou um colchão de aprovação ao governo. O
morticínio que essa plataforma produziu, no entanto, começa a cobrar um preço
do presidente.
A nova pesquisa do Datafolha indica uma tendência continuada de piora nos índices de avaliação de Bolsonaro. Ele nunca teve aprovação significativa durante a crise, mas agora 54% dos brasileiros consideram seu trabalho na pandemia ruim ou péssimo. A reprovação subiu tanto entre os mais pobres (que tiveram o auxílio) como entre os ricos (que já foram o núcleo de sua base de apoio).
O
morticínio furou uma blindagem que Bolsonaro tentou construir no último ano. Na
sondagem, 43% dos entrevistados citaram o presidente como principal culpado
pela situação do país, à frente de governadores (17%) e prefeitos (9%). O
número ganha peso porque a responsabilidade de governantes é um componente
importante da decisão do eleitor.
Os
números sugerem que a saúde é um fator político mais carregado do que Bolsonaro
gostaria de admitir. A avaliação negativa do governo nessa área se somou à
dificuldade da economia e se refletiu no índice de reprovação ao governo, que
subiu para 44%. Mesmo assim, 30% dos brasileiros ainda consideram o trabalho do
presidente ótimo ou bom.
O desastre nacional não foi suficiente para fazer com que Bolsonaro abandonasse a sabotagem e o negacionismo. Ele só mudou o discurso sobre a vacina e decidiu trocar o ministro da Saúde quando viu que sua reeleição poderia ficar em risco.
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