Nunca
a vida de tantos brasileiros esteve nas mãos de tão poucos, garantidos pelas
instituições
Um
encontro numa sala reservada do Palácio do Planalto, no último domingo (14),
reuniu quatro pessoas. Em jogo na conversa, a vida de centenas de milhares de
brasileiros. O resultado da reunião, inevitável pelas circunstâncias, parece
indicar que esses brasileiros perderam —muitos que acompanharam o caso pelo
celular ou pela televisão talvez não estejam vivos daqui a um mês. Esse
desfecho terá as digitais de três dos presentes na sala: Jair Bolsonaro, o
general Eduardo Pazuello e o deputado Flávio Bolsonaro. Já a quarta pessoa, a
médica Ludhmila Hajjar, poderá dormir em paz.
O encontro, todos sabemos, referia-se ao convite de Bolsonaro para que ela aceitasse a suposta pasta do Ministério da Saúde no lugar do pesado, mas invertebrado, Pazuello. Para isso, teria de declarar sua sujeição às ordens do verdadeiro ministro, que é Bolsonaro, e assumir a co-autoria na chacina da população pela Covid. Co-autoria esta já garantida a Pazuello, cujos netos lerão nos livros que o vovô foi cúmplice na morte de 265 mil brasileiros pela pandemia. O que a dra. Ludhmilla recusou não foi um convite, mas uma intimação.
O
tenebroso nessa reunião é como tantos destinos —o número de vidas perdidas no
Brasil ameaça chegar a inacreditáveis 500 mil ou 600 mil— podem depender de tão
poucos. Entende-se que Bolsonaro e Pazuello quisessem arguir a dra. Ludhmilla,
para certificar-se de que ela seria um capacho à altura de Pazuello. Mas o que
Flávio Bolsonaro fazia ali, mesmo em ameaçador silêncio?
Não
apenas a saúde no Brasil está refém de um grupo de sujeitos abomináveis. Tudo
mais está refém deles. Quando se diz que as instituições "estão
funcionando", é para garantir a continuidade do desmoronamento do país.
Já não há instituição do Estado que não esteja visceralmente aparelhada. A costura da provável ditadura está sendo feita por dentro e aos nossos olhos.
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