Na
reta final do governo, José Sarney entregou o comando do antigo Inamps ao
médico que atendia sua família. Ao se apresentar aos colegas, o escolhido
arriscou um gracejo: “Sou um dos poucos brasileiros que já viram o presidente
nu”. Na lógica do patrimonialismo, estava justificada a nomeação.
Jair
Bolsonaro convidou Marcelo Queiroga a assumir o Ministério da Saúde. Qualquer
médico seria melhor que o general Eduardo Pazuello, mas o indicado não tem
qualquer experiência em gestão pública. Suas credenciais são outras: ele pediu
votos para o capitão e é íntimo de Flávio, o primeiro-filho.
Queiroga
deu as caras no dia em que o Brasil registrou novo recorde de mortes na
pandemia: 2.798. Na primeira declaração pública, ele prometeu “continuidade”.
“A política é do governo Bolsonaro. O ministro da Saúde executa a política do
governo”, disse.
A gestão de Pazuello foi um desastre político e humanitário. Suas primeiras ações foram militarizar a pasta e maquiar números oficiais para esconder cadáveres. Ele se dizia especialista em logística, mas deixou faltar testes, medicamentos e até oxigênio nos hospitais.
O
paraquedista admitiu que, ao ser nomeado, “não sabia nem o que era o SUS”. Não
sabia, não quis saber e esnobou quem tentou aconselhá-lo. Em outro surto de
sinceridade, ele reconheceu que só estava no cargo para cumprir ordens de
Bolsonaro. “Um manda, o outro obedece”, explicou.
Quando
Pazuello assumiu, o Brasil contava 14 mil mortos pela Covid. Ontem ultrapassou
os 282 mil. O vírus está fora de controle, a vacinação se arrasta a
conta-gotas, e o presidente insiste em sabotar as políticas de distanciamento
social.
Queiroga
será o quarto ministro da Saúde em um ano de pandemia. Henrique Mandetta e
Nelson Teich saíram para não rasgar o diploma de médico. Pazuello fez o que
fez, e a cardiologista Ludhmila Hajjar recusou o posto ao ver que não teria
autonomia para trabalhar.
O amigo do Zero Um pode admirar o capitão, mas precisa mostrar que não será mais um pau-mandado. No cargo que ele vai ocupar, apostar na continuidade é selar um pacto com a morte.
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