BC
não tem alternativa no país que Bolsonaro sabota a saúde e a economia
O
Banco Central vai aumentar
a taxa básica de juros em sua reunião desta quarta-feira (17). Caso
não o fizesse, provocaria um tumulto final na economia sob o desgoverno de Jair
Bolsonaro. Não importa o que a leitora, que é perspicaz, ache do regime de
metas de inflação, da autonomia do BC ou do “neoliberalismo”: haveria tumulto.
A curto prazo, não há solução alternativa.
Caso
o BC se fingisse de morto, o dólar iria muito
além dos R$ 6, de imediato e para começar. A inflação, que já está marcada
para ir a perto de 7% anuais lá por junho, por aí ficaria. Esses seriam os
primeiros sintomas de coisa ainda pior.
Isto
posto, a alta da Selic não vai sair barato, talvez para o crescimento de 2022 e
com certeza não para o controle da dívida pública, um problema central do país,
qualquer que seja a solução que se imagine para um endividamento ainda sem
limite.
Por falta de crédito, taxas de juros de longo prazo muito salgadas, o governo do Brasil se endivida ou rola sua dívida cada vez mais a curto prazo. Uma taxa Selic real (descontada a inflação) em zero ou perto disso até o fim do ano que vem daria um refresco. Não, não é solução. O país está tão arrebentado que dependemos dessas coisas marginais para não afundarmos de vez.
Não,
a taxa básica de juros não estaria entre os determinantes da atividade econômica
a curtíssimo prazo (menos de um ano), se tanto. O resto de crescimento que se
pode salvar em 2021 depende, como é óbvio, de contenção do morticínio, da lotação
das UTIs e de vacinas, nada disso à vista antes de meados de abril, se
tivermos sorte.
No
ritmo atual, em nove dias as UTIs da prefeitura da cidade mais rica do país,
São Paulo, estarão lotadas. Se forem abertas mais vagas, em esforço recorde,
inédito e talvez limite, lotam em 17 dias.
No
mais, o crescimento dependeria da existência de algum governo, com qualquer
rumo que fosse. O “teto” de gastos não desabou por
um triz neste março. Goste-se ou não desse telhado de vidro já
encardido e rachado, entre outros problemas estruturais desde sempre, se o
“teto” tivesse desabado agora, sem alternativa bem pensada, estaríamos indo à
breca imediata. Bolsonaro tentou derrubar o teto.
O
estímulo da política monetária (juros do BC, grosso modo) à retomada econômica
será menor. Quão menor? Também dependerá da campanha de alta de juros que o BC
levará adiante. Há quem diga que a Selic deve ir apenas dos 2% atuais para 4%
no fim do ano. Já seria forte. Na média de opiniões reputadas e preços de
mercado, imagina-se que vá a 5,5% ao ano. Uma paulada.
Tanto
maior será a paulada quanto maior o desgoverno. As altas do dólar e das
commodities são os fatores dominantes da inflação, determinados
majoritariamente por motivos externos. A pressão do exterior poderia ser em
parte contrabalançada por um governo que tratasse da epidemia e tivesse rumo,
qualquer rumo, na economia. Mas Bolsonaro agora tenta sabotar com mais
frequência até as últimas proteções contra o caos: vide patada no Banco do
Brasil, na Petrobras, a tentativa de sabotar o teto de gastos na votação
de PEC
Emergencial.
Afora
os fatores externos, o dólar está ainda mais alto por causa do endividamento
sem limite, porque o Brasil não cresce, porque Bolsonaro seca o chão onde pisa
ou cospe seus vitupérios idióticos, facinorosos e autoritários.
Ah, tratávamos do Banco Central. O BC se tornou um barquinho nesse mar de imundície tormentosa. Está sendo levado, não tem o que fazer a não ser atenuar o pior.
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