Versão
Lulinha paz e amor de volta à cena
De
Guilherme Boulos a Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda na ditadura entre 1967
e 1974, passando por José Sarney (MDB) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB),
todos admitem votar em Lula se
ele disputar com Bolsonaro o
segundo turno da eleição do próximo ano. É o tal “arco da sociedade” de
antigamente.
Boulos
e Delfim são os mais entusiasmados. O primeiro ainda não explicitou seu apoio a
Lula porque tem antes de convencer o seu partido. A tarefa de Delfim é mais
hercúlea – abrir trincas no paredão do mercado financeiro que resiste a Lula e
ainda põe um resto de fé em Bolsonaro à espera das reformas.
Na
eleição de 2018, quando o candidato do PSDB a presidente obteve no primeiro
turno apenas 5% dos votos válidos, Fernando Henrique, embora amigo de Fernando
Haddad (PT), preferiu não votar em ninguém no segundo turno. Arrependeu-se,
como admitiu ontem em entrevista a Tales Faria, do UOL:
– Se ficar Lula e Bolsonaro, faço minha culpa, minha culpa e voto no menos ruim.
Fernando
Henrique ainda espera que seu partido escolha um nome com chances de derrotar
Bolsonaro, mas já avisa: “Se não se opuser a Bolsonaro com firmeza,
fracassará”. João Doria (PSDB), governador de São Paulo, recuou do seu
propósito de enfrentar Bolsonaro, embora tope enfrentar se seu partido quiser.
João
Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul, persevera na intenção de
bater-se contra o atual presidente. Até aqui, pelo menos, seu nome parece
encontrar menor oposição dentro do partido. Na eleição de 2018, o Rio Grande do
Sul deu 63% dos seus votos a Bolsonaro no segundo turno.
O
MDB de Sarney é também o MDB de Michel Temer que, por enquanto, permanece
calado. Em segredo, Temer deu conselhos a Bolsonaro na esperança de que seu
governo se ajeitasse. Pouco escutado, retraiu-se. Ele e Lula sempre se deram
bem. Dilma não quer conversa com Temer, mas ela está fora do jogo.
Bolsonaro
é quem deve se preocupar com sua permanência no jogo. Começou a colher os
resultados desastrosos de sua omissão no combate à pandemia. Ou melhor: da sua
parceria com a Covid no estrago que ela provoca no país. Sucessivas e recentes
pesquisas de opinião pública atestam que ele está ladeira a baixo.
No
dia em que o número de mortes alcançou o recorde de 2.798, quase duas por
minuto, e a Fundação Oswaldo Cruz anunciou que o país enfrenta o maior colapso
hospitalar de sua história, o Datafolha conferiu que a atuação de Bolsonaro na
guerra contra o vírus é considerada ruim ou péssima por 54% dos brasileiros.
Na
pesquisa Datafolha realizada em 20 e 21 de janeiro último, 48% reprovaram o
desempenho dele. Na rodada atual, para 43%, ele é o principal culpado pela fase
aguda da pandemia, seguido pelos governadores (17%) e os prefeitos (9%). O
índice dos que nunca acreditam no que ele diz oscilou de 41% para 45%.
No
ocaso da gestão do general Eduardo Pazuello, substituído no cargo pelo médico
bolsonarista Marcelo Queiroga, a avaliação positiva do Ministério da Saúde, de
janeiro para cá, caiu de 35% para 28%, o menor índice desde a chegada do
novo coronavírus. A avaliação negativa subiu de 30% para 39%.
Em
sua primeira fala como ministro, Queiroga disse a que veio. Recomendou o uso de
máscara e a lavagem das mãos, solidarizou-se com as vítimas da Covid e repetiu
que dará continuidade ao trabalho de Pazuello e seguirá as orientações de
Bolsonaro. É uma nova versão do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.
Hamilton
Mourão, vice-presidente da República, deu razão a Queiroga: “A função do
ministro, quem define é o presidente. O ministro é um executor das
decisões do presidente. Até por isso, o presidente é o responsável por tudo o
que aconteça ou deixe de acontecer, essa é a realidade”. (Maldade com Bolsonaro!!!)
Na
célebre e barulhenta reunião ministerial de abril do ano passado, o ministro do
Meio Ambiente sugeriu a Bolsonaro “passar a manada” da desregulamentação do
setor enquanto a mídia estivesse ocupada com a pandemia. Acuado pelo vírus,
Bolsonaro assiste Lula aparar suas eventuais diferenças com antigos aliados.
O
futuro assegura um emprego bem pago ao general Pazuello
A
quarta estrela será difícil
Se
quiser retornar ao quartel, tudo bem. O general Eduardo Pazuello, de saída do
Ministério da Saúde, deixou ali grandes amigos. Só não deve contar
necessariamente com a quarta estrela que lhe falta no ombro. Doublé de general
e de ministro de um governo turbulento, ele desgastou-se no Exército.
Mas
o provável é que ganhe uma embaixada para não ficar ao desamparo, e ainda por
cima sob o risco de ser chamado a depor diante de um juiz da primeira instância
e de ouvir voz de prisão, acusado de improbidade administrativa. Embaixada quer
dizer: um emprego bem pago que lhe confira visibilidade.
Pode ser dentro do Palácio do Planalto, a relativa distância do gabinete do presidente Jair Bolsonaro, ou fora, no comando de alguma empresa estatal. Ou como conselheiro de uma dessas empresas. Desabrigado não ficará para não sujeitar-se a vexames e em reconhecimento aos serviços prestados ao ex-capitão.
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